Tem filme de crime que mostra o “quem matou”. O Desconhecido (The Stranger), disponível na Netflix, prefere mostrar o “como” uma polícia inteira se desmonta por dentro para conseguir arrancar a verdade de um suspeito.
O longa australiano se apoia em uma operação real considerada uma das maiores ações secretas da história do país, o que já coloca a produção num patamar bem diferente dos thrillers policiais de prateleira.
Lançado em 2022, o filme é um thriller psicológico escrito e dirigido por Thomas M. Wright e protagonizado por Joel Edgerton e Sean Harris.

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A trama é inspirada no livro The Sting: The Undercover Operation That Caught Daniel Morcombe’s Killer, que relata a operação que levou à prisão do assassino do adolescente Daniel Morcombe, caso que chocou a Austrália e mobilizou a polícia por quase uma década.
Para evitar exploração direta da tragédia, o longa troca nomes, altera detalhes e foca na engrenagem da investigação, não na vítima.
No filme, Sean Harris vive Henry Teague, um homem recluso, de passado nebuloso, que passa a ser visto como principal suspeito do sequestro e morte de um garoto. Falta o que realmente pesa num tribunal: prova concreta.
É aí que entra Mark Frame, personagem de Joel Edgerton, um policial infiltrado encarregado de se aproximar de Teague, virar “amigo” dele e criar intimidade suficiente para que ele relaxe a guarda.

Essa relação desconfortável — um suspeito carente de conexão e um agente que precisa fingir lealdade — conduz boa parte da tensão.
A investigação ganha corpo por meio de uma operação superelaborada. Teague passa a acreditar que está sendo recrutado por uma organização criminosa poderosa, envolvida com tráfico e negócios sujos em vários níveis.
Essa “quadrilha”, na verdade, é composta por policiais interpretando integrantes da rede. Eles oferecem dinheiro, proteção e um tipo de pertencimento que o personagem jamais teve.
No meio de reuniões, viagens e “trabalhos”, Teague é induzido a contar seu passado e, aos poucos, a revelar o que realmente sabe sobre o crime.

O método mostrado no filme tem base em uma técnica real conhecida como “Mr. Big”, usada pela polícia em operações infiltradas para arrancar confissões: o suspeito é atraído por uma organização fictícia que promete resolver seus problemas, desde que ele conte tudo o que fez para que a cúpula possa “limpar” o rastro.
Essa engrenagem de mentira constante corrói tanto o alvo quanto quem está fingindo. Em O Desconhecido, a pressão psicológica em cima de Mark e o impacto disso na relação com o filho e na vida doméstica ganham espaço, mostrando que ninguém sai ileso de um jogo desses.
Visualmente, o longa aposta em uma fotografia escura, com paleta dominada por tons frios, estradas vazias, interiores abafados e cenários que parecem sempre à beira de algo ruim acontecer.
As conversas em carros, motéis e galpões substituem as cenas clássicas de ação; a sensação de perigo vem do que não é dito e dos silêncios desconfortáveis entre Mark e Henry.
A crítica internacional destacou justamente esse clima pesado e a atuação dos dois protagonistas, que carregam o filme com nuances, tiques, olhares e um cansaço que parece físico.
O resultado é um suspense policial que se vende como entretenimento da Netflix, mas traz a marca de uma das investigações secretas mais intensas já realizadas na vida real.
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Fonte: IMDB
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