Um final que não sai da cabeça: o filme da Netflix que seguirá em seus pensamentos por mais alguns dias

Tem filme que termina, os créditos sobem, mas o cérebro se recusa a “encerrar o arquivo”.

Aniquilação é esse tipo de experiência: você assiste, acha que entendeu mais ou menos, e de repente está lavando a louça ou indo dormir e uma imagem do farol, da duplicata de Lena ou daquele urso grotesco volta do nada. E aí vem a pergunta: o que foi que eu acabei de ver?

Dirigido por Alex Garland (Ex Machina), Aniquilação é um sci-fi de terror de 2018 inspirado no livro de Jeff VanderMeer.

No centro da história está Lena, interpretada por Natalie Portman, uma bióloga e ex-soldado que tenta lidar com o desaparecimento do marido, Kane (Oscar Isaac), após uma missão secreta.

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Um ano depois, ele reaparece em casa totalmente confuso, mal consegue explicar onde esteve e, pouco depois, passa a ter uma estranha falência do corpo.

Essa situação leva Lena a uma instalação militar conhecida como Área X. Lá ela descobre a origem do problema: uma zona isolada onde um fenômeno luminoso, chamado de The Shimmer, está se expandindo desde que algo caiu do céu perto de um farol na costa da Flórida.

Várias expedições militares e científicas entraram nessa região para entender o que está acontecendo. Quase ninguém voltou. Kane é a rara exceção — e está daquele jeito.

Decidida a encontrar respostas, Lena se junta a uma nova equipe: a psicóloga Ventress (Jennifer Jason Leigh), a paramédica Anya (Gina Rodriguez), a física Josie (Tessa Thompson) e a geomorfóloga Cass (Tuva Novotny).

É um grupo totalmente feminino, algo que o filme trata com naturalidade, sem discurso explícito sobre isso. A missão delas é atravessar o Shimmer até o farol, ponto de origem do fenômeno.

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A teoria oficial: entender a anomalia para, quem sabe, conter a expansão. A impressão real: todas ali têm um motivo íntimo para topar uma missão que pode muito bem ser suicida.

Dentro do Shimmer, a lógica do mundo começa a escorregar. O tempo não é confiável, bússolas enlouquecem, a memória falha.

A natureza sofre mutações bizarras: plantas com formatos quase humanos, um jacaré com fileiras de dentes que parecem saídos de um pesadelo, um urso que mistura anatomia distorcida com gritos humanos.

O filme abraça esse visual distorcido sem cair no CGI genérico: tudo parece orgânico, úmido, doentio e, ao mesmo tempo, hipnótico.

À medida que o grupo avança, fica claro que o Shimmer não está só “infectando” a paisagem. Ele reflete, refrata e mistura informações genéticas, como se fosse um prisma biológico.

Isso afeta plantas, animais e as próprias personagens. O que surge daí não é só mutação física, mas também mental: paranoia, delírio, sensação de que algo dentro delas está se reorganizando contra a vontade.

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O filme usa essa ideia para tratar de temas espinhosos como autodestruição, depressão e luto — vários críticos destacam justamente essa leitura mais emocional por trás da ficção científica.

Natalie Portman conduz tudo com uma atuação contida, quase científica em alguns momentos, mas que deixa escapar culpa e dor o tempo todo.

Lena é alguém que errou na vida pessoal, se sente responsável por coisas que não consegue consertar e, de certa forma, entra no Shimmer como quem aceita uma espécie de punição.

Do outro lado, Oscar Isaac faz um Kane enigmático, quase “desligado”, o que reforça o estranhamento de tudo o que cerca a missão original.

O elenco de apoio ajuda a dar textura para o grupo, com personalidades bem marcadas e motivações que vão sendo reveladas aos poucos.

Visualmente, Aniquilação tem momentos que grudam na retina: o vídeo encontrado no quartel abandonado, o corpo transformado em algo entre carne e fungo na parede, a cena do urso no galpão, o farol tomado por formas estranhas.

A fotografia trabalha com cores fortes e reflexos, reforçando essa ideia de distorção constante. A trilha sonora de Ben Salisbury e Geoff Barrow alterna entre minimalista e completamente dissonante, deixando tudo mais desconfortável em cenas-chave.

E aí chegamos ao tal final que não sai da cabeça. No farol, Lena encontra o coração do fenômeno e se depara com algo que parece copiar seus movimentos, quase como um espelho vivo.

A sequência é lenta, estranha, angustiante. Não há um discurso explicando tudo; o filme confia que o espectador vai preencher os espaços com as próprias interpretações: aquilo é um “invasor” tentando imitar a vida humana?

É uma metáfora para autossabotagem? É um comentário sobre mudança inevitável? O abraço final entre Lena e Kane, com aquele brilho nos olhos, só aumenta a sensação de que nada voltou igual ao que era antes.

Quando foi lançado nos cinemas, Aniquilação teve bilheteria modesta, mas ganhou força no streaming.

Em vários países, chegou direto à Netflix e ficou marcado como “filme da Netflix esquisito e necessário”, entrando em listas de melhores títulos do ano e sendo mencionado até em seleção de filmes favoritos de 2018 feita por Barack Obama.

Não é daqueles longas que agradam pelo conforto — é o tipo de experiência que provoca, incomoda e continua rondando a cabeça dias depois.

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Fonte: Southern Reach

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