Quem convive com criança sabe: em poucos minutos, a casa pode sair do sossego para o choro, o grito, a birra, o medo. Do lado de dentro da cabeça delas, porém, isso faz bastante sentido.
O cérebro infantil ainda está em construção e reage de forma intensa a frustração, barulho, cansaço e conflitos.
Nessas horas, mais do que discurso longo ou sermão, uma frase simples pode fazer diferença real: “Eu te entendo.”
Essa expressão curta funciona como um “abraço verbal” para o cérebro da criança.
A neuropsicologia infantil mostra que, quando a criança se sente aceita e compreendida, áreas ligadas à ameaça tendem a reduzir a ativação, enquanto o sistema de regulação emocional ganha espaço para trabalhar.
Ela não passa a gostar do que aconteceu, mas sente que não está sozinha dentro daquele turbilhão interno, e isso já muda muita coisa.

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Por que o cérebro infantil reage tanto à validação
Na infância, o sistema nervoso vive em modo de aprendizado intenso. Emoções como raiva, medo e tristeza chegam com força, mas as ferramentas internas para lidar com tudo isso ainda estão em desenvolvimento.
É aí que os adultos funcionam como “reguladores externos”: pelo tom de voz, pelo jeito de olhar, pela postura e pelas palavras que escolhem.
Um estudo recente citado pela psicologia do desenvolvimento mostra que, quando os adultos validam as emoções das crianças — em vez de minimizar ou ridicularizar —, elas tendem a se acalmar mais rápido, persistir em tarefas difíceis e reagir com menos explosões emocionais.
Em termos simples: quando alguém diz “eu te entendo”, o cérebro lê como segurança, e a respiração e o corpo começam a sair do estado de alerta máximo.
Validar não é concordar com tudo. É reconhecer que aquilo ali está doendo, incomodando ou assustando, mesmo que, na visão do adulto, pareça exagero.
Esse “ok, eu sei que está difícil pra você” abre espaço para que a criança volte a pensar e ouvir, o que é essencial na hora de ensinar qualquer coisa.
Como usar a frase “Eu te entendo” na prática
Dito de qualquer jeito, “eu te entendo” vira frase protocolar. O efeito é outro quando o adulto se aproxima com intenção verdadeira de acolher. Alguns pontos ajudam bastante:
Aproxime-se fisicamente: se der, sente-se ou agache para ficar na altura da criança. O contato visual próximo passa mais segurança do que falar gritando de longe.
Use voz calma e ritmada: falar alto ou rápido demais mantém o cérebro dela em estado de defesa. Um tom mais lento mostra que ninguém ali está em guerra.
Nomeie o que ela sente: algo como “eu te entendo, você ficou muito bravo porque o brinquedo quebrou” ajuda a criança a ligar emoção e contexto.
Ofereça presença, não só conselho: às vezes, antes de explicar qualquer regra, vale ficar alguns segundos em silêncio, ao lado, reforçando com o corpo o que a frase já disse.
Quando o adulto diz “eu te entendo” desse jeito, com coerência entre voz, olhar e postura, o cérebro da criança começa a sair do modo ataque/fuga e a caminhar para o eixo da cooperação. A partir daí, estabelecer limites e combinar regras fica bem menos tenso.

Outras frases que ajudam a acalmar
A frase de duas palavras é uma espécie de chave-mestra, mas não precisa ser a única ferramenta. Outras expressões têm efeito semelhante, porque mantêm a lógica da validação:
- “Estou aqui com você.” – reforça presença e reduz a sensação de abandono.
- “Entendo por que você se sente assim.” – reconhece a emoção, mesmo que a reação pareça exagerada.
- “Sei que isso não é fácil pra você.” – mostra respeito pelo esforço da criança diante do problema.
- “Podemos ficar juntos um pouco.” – abre espaço para ela se reorganizar emocionalmente antes de ouvir orientações.
O ponto em comum é que todas comunicam: “você não está errado por sentir o que sente; vamos lidar com isso juntos”. Para o cérebro infantil, essa mensagem vale ouro.

Validação emocional, limites e desenvolvimento saudável
Neuropsicólogos chamam atenção para um detalhe importante: validar emoção não significa liberar qualquer comportamento. Uma criança pode estar legitimamente frustrada e, ainda assim, não ter autorização para bater, quebrar ou xingar.
O equilíbrio está em frases que juntam empatia e limite, como: “eu te entendo, você ficou muito chateado, e por isso mesmo eu não vou deixar você bater”.
Quando o adulto atua assim, ajuda o cérebro da criança a montar conexões entre sentir, pensar e agir. Aos poucos, ela passa a reconhecer o que sente, nomear, pedir ajuda e regular o próprio impulso.
A longo prazo, essa combinação de acolhimento e limite vira base de resiliência: a criança cresce sabendo que é levada a sério, mesmo quando erra, e que pode enfrentar situações difíceis sem se perder totalmente no caos emocional.
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Fonte: EON, J. Your feelings are reasonable: Emotional validation improves children’s persistence. Developmental Science, 2024.
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