Tem filme que faz chorar por tristeza. 7 Prisioneiros faz chorar por outro motivo: a lágrima vem misturada com raiva, impotência e aquela sensação de “isso está mais perto do que a gente gosta de admitir”.
Alexandre Moratto coloca a câmera colada nos personagens e vai tirando, peça por peça, o verniz da “oportunidade de emprego” até sobrar só o que interessa: um esquema de exploração que se sustenta no medo, na dívida e no silêncio.
A história acompanha Mateus (Christian Malheiros), um garoto de 18 anos que sai do interior e aceita um trabalho em São Paulo num ferro-velho.

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O que parecia chance de melhorar de vida vira armadilha: os rapazes são isolados, têm documentos recolhidos e passam a “dever” por transporte e moradia, num mecanismo que amarra qualquer tentativa de fuga.
A engrenagem tem nome e rosto: Luca (Rodrigo Santoro), o homem que comanda o lugar e sabe alternar ameaça e falsa conversa mansa com uma facilidade assustadora.
O que faz o filme funcionar tão bem é que ele não se apoia em discursos explicativos. Moratto prefere mostrar o cotidiano — trabalho pesado, controle constante, humilhação que chega em pequenas doses, repetidas, até virar rotina.
A crítica internacional chamou atenção justamente pra isso: o roteiro vai abrindo o quadro aos poucos, revelando como o tráfico de pessoas e a exploração se conectam a interesses maiores e a conivências bem estabelecidas.
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E aí entra o ponto mais incômodo: a pressão para que a vítima vire peça do próprio sistema. Mateus tenta negociar, tenta proteger os outros, mas o filme insiste na pergunta que dói — “o que você faria se a ameaça não fosse só contra você?”.
Essa tensão explode dentro do grupo e cria um clima de desconfiança que deixa tudo mais sufocante.
Nas atuações, o destaque é duplo. Christian Malheiros segura o protagonismo com um tipo de revolta contida que aparece no olhar e no jeito de engolir palavras quando qualquer reação pode custar caro.

Já Rodrigo Santoro faz um Luca sem “charme de vilão”: o cara é bruto, pragmático, imprevisível — e justamente por isso dá medo.
Também ajuda o fato de 7 Prisioneiros não ter pressa. Com 1h33, ele te coloca naquele espaço e deixa o desconforto crescer até virar nó na garganta.
O filme é de 2021, dirigido por Alexandre Moratto, com roteiro assinado por ele e Thayná Mantesso, e chegou ao catálogo da Netflix em novembro daquele ano.
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