A arte de não ligar para o que os outros pensam de você

Por Anderson L Souza, no Medium

Redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter de fato conectam pessoas. Se você pensar bem, vinte anos atrás não era tão fácil assim entrar em contato com uma pessoa que está a milhares de quilômetros de distância de você. Hoje essa tarefa é bem mais fácil. E isso é muito legal.

Talvez de maneira mais implícita, essas redes possibilitaram que mais vozes sejam ouvidas. Basicamente, o alcance que uma opinião sua tem hoje é exponencialmente maior do que o alcance que ela teria em 1980. E não estou falando de número de pessoas que aceita a sua opinião como válida e correta. Estou falando simplesmente do número de pessoas que vão ter acesso (ler ou ouvir) o que você tem a dizer. E isso também é legal.

No entanto, essa exposição fácil cria duas ilusões comuns na nossa mente: (1) Eu posso falar o que eu quiser e como quiser e (2) Eu tenho que ter uma opinião sobre todo e qualquer assunto. E isso não é um fenômeno mental exclusivo dessas redes sociais emergentes. Isso ocorre em outros contextos também: imagina que você precise de um celular para se comunicar com seus familiares.

Se você tem apenas R$600 no banco, provavelmente vai considerar um celular barato. Mas se alguém te der um milhão de Reais, você vai começar a sentir uma necessidade — que não existe — de comprar pelo menos um iPhone mais moderno ou o mais novo modelo da Samsung (e não o celular de R$600 que você havia considerado anteriormente).

Qual é o problema disso? A resposta é complexa. Nós somos seres sociais. Isso significa que a nossa cognição aprendeu a levar em consideração o que os outros pensam de nós.

Esse tipo de “validação” é um fator social importante e, evolutivamente falando, nos trouxe algumas vantagens (ex.: membros de grupos que têm aprovação dos outros têm uma probabilidade maior de ter acesso a recursos escassos do grupo). E esse é um dos motivos que faz com que redes sociais que exploram esse aspecto sejam extremamente bem sucedidas (por que você acha que os botões de curtir e favoritar do Facebook, Instagram e Twitter são um sucesso?).

No entanto, quando você combina os fatos de que (1) as dinâmicas sociais que ocorrem no meio online são um pouco diferentes das dinâmicas que ocorrem em interações face-a-face e (2) as pessoas tendem a achar que precisam opinar sobre tudo que veem, a gente percebe que, para manter o mínimo de sanidade mental, a gente precisa desenvolver algumas estratégias que nos permitam não nos envolver emocionalmente com tudo que falam nas redes sociais. Em outras palavras, precisamos desenvolver a capacidade de dizer “ok” e continuar a vida (confesso que as vezes o “ok” vira “foda-se”, mas… ok).

Como a nossa mente está constantemente buscando validação do outro, criar essas estratégias não é uma tarefa fácil. É importante começar aos poucos e aprimorar essa habilidade com o tempo. O mais importante é saber que (1) você não precisa responder toda e qualquer crítica que ouve e lê e (2) você não precisa ter uma opinião sobre tudo.

Se alguém posta algo sobre comércio internacional e você não sabe nada sobre comércio internacional, não tem problema você ler a postagem e continuar a vida sem dizer nada sobre ela. Se for algo que despertou sua curiosidade e interesse, procure estudar e saber mais sobre o assunto. Assim você vai aumentar sua gama de conhecimento e poderá, no futuro (e se quiser), dar uma opinião mais informada sobre o assunto.

Se alguém responder a uma postagem ou tweet seu dizendo algo que você julga não fazer sentido (ex.: você posta algo irônico sobre biscoito vs. bolacha e alguém te responde te chamando de babaca), leia a postagem ou tweet, responda algo reacionário apenas na sua cabeça (ex.: babaca é você seu filho da p***. Vai tomar no c***) e continue a vida, imaginando que aquela pessoa leu a sua resposta, se sentiu um idiota acuado e não respondeu mais. Em outras palavras: apenas ignore!

Com o tempo isso te ajuda a apenas opinar quando você julgar que sua opinião vai contribuir para uma discussão legal e construtiva. Além disso, esse tipo de prática vai te ajudar a perceber aquilo que realmente importa na construção do seu conhecimento sobre como o mundo funciona.






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