Quando Spike Lee junta humor ácido com denúncia social, o resultado costuma grudar na cabeça. “Infiltrado na Klan” (2018) volta aos holofotes no catálogo da Netflix com a mesma força de estreia: um suspense policial biográfico que cutuca o racismo institucional enquanto diverte com uma operação tão improvável quanto real.
Do que trata. Em 1978, Ron Stallworth se torna o primeiro detetive negro da polícia de Colorado Springs. Incomodado com o avanço da retórica supremacista na cidade, ele decide atingir o problema na fonte: se infiltrar na Ku Klux Klan.
Por telefone, adota um personagem — um “branco” radical — e ganha a confiança do grupo. Para as reuniões, entra em cena o parceiro Flip Zimmerman, policial branco que assume a identidade de Ron presencialmente. A partir daí, o jogo de espelhos começa a render provas, tensão e situações tão absurdas que só a realidade explicaria.
A dupla alterna aparições e telefonemas para manter a farsa, sobe degraus dentro da organização e passa a sabotar planos violentos, minando ataques e armadilhas. Spike Lee aproveita o embalo para mostrar como discurso de ódio se espalha por rádio, panfletos e encontros “sociais”, sem perder o ritmo de thriller.
Por que o filme é viciante. O roteiro equilibra suspense policial com sarcasmo político, costurando investigações, disfarces e diálogos cortantes. A direção enfatiza a contradição central: um sistema que deslegitima um detetive negro enquanto ele próprio desmascara criminosos que se apresentam como “cidadãos de bem”.
Elenco em ponto alto.
John David Washington entrega um Ron Stallworth atento, engraçado e metódico — carisma que conduz a trama.
Adam Driver vive Flip Zimmerman com nuance: cético no início, comprometido quando percebe o tamanho do monstro.
Topher Grace aparece como David Duke, líder da Klan, num retrato frio e perturbador.
Laura Harrier dá substância a Patrice, voz do ativismo local, enquanto Jasper Pääkkönen surge ameaçador como Felix.
Assinatura Spike Lee. A montagem alterna clima de investigação e comentário histórico, com referências visuais e sonoras que conectam passado e presente. O desfecho ecoa o mundo real, lembrando que ideologias extremistas não ficaram nos anos 70.
Ficha rápida. Direção de Spike Lee; roteiro de Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e Spike Lee a partir das memórias de Ron Stallworth; duração aproximada de 2h15. É cinema de gênero com nervo político — feito para entreter e fazer pensar, na mesma sentada.
Vale o play? Se você quer um policial biográfico que entrega atuação, ritmo e contexto histórico, “Infiltrado na Klan” cumpre a promessa e justifica a mensalidade: tenso, afiado e estranhamente divertido.
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