A vulnerabilidade também tem um valor psicológico

A vulnerabilidade, além daquilo em que fomos levados a acreditar, é um valor psicológico, mais uma face da nossa realidade como seres humanos que, como tal, merecem ser aceitas. Com isso, não apenas assumimos uma parte do nosso universo emocional, mas também facilitamos uma conexão mais íntima, mas autêntica, com tudo o que nos rodeia.

Requer uma grande força para nos permitir estar vulneráveis. Um mundo onde a segurança, a eficiência ou a força são valorizadas, aquele que se atreve em um dado momento a soltar sua concha de aparente perfeição evidencia, sem dúvida, uma coragem notável. E para isso, não prova muito menos uma derrota ou um ato de fraqueza.

Vulnerabilidade, e isso vale a pena lembrar, não é uma indisposição, não é falta de força ou coragem pessoal. Estamos diante de mais um lado do caráter humano. É, em essência, uma parte da nossa natureza, onde podemos ser mais sensíveis às nossas necessidades e, por sua vez, sermos capazes de ter mais empatia com a dor e as realidades emocionais dos outros.

Nós não somos super-heróis, somos pessoas (o poder da vulnerabilidade)

Mario Benedetti disse que a perfeição nada mais é do que uma coleção polida de erros. No entanto, vamos encarar isso, as pessoas acham difícil aceitar os erros, as falhas e as mudanças de significado que o destino às vezes nos traz. De certa forma, a sociedade nos acostumou a navegar pelo puro universo das aparências, essas máscaras para fingir resolução e bom humor quando dentro, palpitar medos, tristezas e angústias.

Assim, do ponto de vista cultural, a vulnerabilidade emocional e mesmo física sempre tem uma marca desdenhosa e até mesmo vergonhosa. Quem num determinado momento se afasta daquele molde caracterizado pela perfeição, força e resolução – que admite dúvidas e erros como partes do jogo – passa a se sentir mal consigo mesmo porque não se conforma com o que a sociedade espera e reforça.

Por outro lado, é curioso que dentro do mundo da literatura, da poesia ou da filosofia existencial de autores como Martin Heidegger, a vulnerabilidade fosse entendida de maneira mais necessária e construtiva. Livros como o do Dr. Robert D. Stolorow, World, afetividade, trauma, nos lembram que essa dimensão é mais uma área da nossa existência. Afinal, somos todos finitos, sensíveis, mortais e erráticos.

O equilíbrio entre vulnerabilidade e força

É ótimo, por exemplo, demonstrar nossas habilidades e capacidades para certas atividades ou desafios, é maravilhoso mostrar como somos bons em uma área. No entanto, admitir que às vezes não podemos com tudo também é aceitável; na verdade tem que ser, porque é uma realidade.

Assumir erros, mostrar dor, frustração ou tristeza diante de certas circunstâncias que nos ultrapassem ou mesmo dizer em voz alta que estamos passando por um momento ruim e que também precisamos de um tempo admirável e recomendável. Não há nada de errado nisso, nem somos menos valiosos para deixar claro que nossa força coexiste com nossa fragilidade.

Dureza não é um valor psicológico, a vulnerabilidade sim

A dureza de caráter, a personalidade que faz uso de uma atitude dura e aparentemente infalível, não alcança nenhum cume na vida. Não pelo menos no que realmente importa: na felicidade, bem-estar, respeito, coexistência. Além disso, nem mesmo em ambientes de trabalho essas habilidades são baseadas em dureza, resolução e implacabilidade recomendadas.

Atualmente, é evidente que aspectos como sensibilidade, empatia e vulnerabilidade abordam as posições e criam melhores ambientes de trabalho; melhores acordos são alcançados e os cenários são humanizados.

Você é perfeito quando, num dado momento, você se deixa vulnerável

Brené Brown, professor e pesquisador da Universidade de Houston, aponta que a vulnerabilidade é o berço do amor, pertencimento, alegria, coragem, empatia e criatividade. Por que assumir então que, quando em um dado momento nos permitimos ser vulneráveis, somos imperfeitos?

Triste é, por exemplo, quem nunca se permitiu ser. Quem nunca ousou se abrir para alguém para comunicar emoções, sentir a dor ou a felicidade do outro. Lamentável é aquele que é obcecado em sempre mostrar aos outros competência absoluta, dureza de caráter, inflexibilidade e incapacidade de cometer erros. Essas dinâmicas mostram a imperfeição, onde a infelicidade também está contida.

Admirável é aquele que é capaz de se mostrar com suas luzes e sombras, com suas forças e fraquezas. Coragem é aquele que tem a coragem de cair quando não consegue mais ficar de pé e levantar quando é a hora. O poder da vulnerabilidade nos torna humanos, nos dá perfeição porque somos capazes de aceitar a nós mesmos e aos outros com toda a sua riqueza interior. Nada pode ser tão reconfortante.

Artigo extraído do site lamenteesmaravillosa
Imagem de capa: Pexels






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