ABORTO: O que dizer E O QUE NÃO DIZER sobre ele

Por Rafaela Azevedo

Falar de aborto não é tarefa fácil. Quando trazemos à memória a questão do aborto, com certeza remetemo-nos também às questões políticas, sociais e até dos tão reivindicados direitos das mulheres que com ele estiveram sempre subjacentes. De facto, apesar de este ser um artigo de opinião, com ele não pretendo manifestar a minha opinião pessoal, mais filosófica, sobre o tema, mas trazer à luz algumas questões psicológicas que lhe estão frequentemente adjacentes e que muitas vezes são descoradas.

Primeiramente é fundamental definir Aborto. Vou, então, elencar-me à definição dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1989) que entende aborto como sendo a interrupção de uma gravidez antes que o feto seja capaz de vida extrauterina independente. Segundo os parâmetros médicos esta situação corresponde às 28 primeiras semanas de gestação, contando a partir do primeiro dia da última menstruação normal.

Existem duas classes, muito bem definidas de aborto: o espontâneo e o provocado. No primeiro a interrupção da gravidez não é intencional, enquanto, no segundo, estando ou não dentro da lei, tudo é deliberado. O aborto provocado é, sem dúvida, o mais prejudicial para a saúde da mulher, tanto física como mental. A nível físico porque na maioria das situações é realizado por pessoas não habilitadas, o que pode gerar doenças ou até mesmo a morte. Contudo, neste artigo gostaria de focar-me no prejuízo mental que frequentemente acarreta.

Seja qual for a situação a mulher sofreu uma perda. E se ela não se permitir vivenciar essa perda passando pelas fases da negação, da perda, da raiva, da culpa, do medo e do ressentimento e perceber que é normal passar por todos estes estádios, poderá desencadear prejuízos psíquicos dificilmente reversíveis. O que acontece é que como o aborto provocado é muitas vezes negado, todos estes sentimentos serão como que camuflados e a restauração não acontecerá.

Foi realizado um estudo na Dinamarca (Schleiss e col., 1997) em que 61 mulheres foram entrevistadas antes e depois de sofrer um aborto provocado. No pós-aborto 28% das mulheres relataram sentimentos de culpa e 30% delas reconheceram que o aborto influenciou negativamente as suas relações e a sua sexualidade. É interessante referir ainda que 52% das mulheres, dois dias antes do aborto, já foram consideradas com sintomas psiquiátricos.

O aborto provocado trás consigo uma serie de sintomas, poucas vezes falados, que podemos denominar de Síndrome Pós-Aborto. Esta síndrome inclui sintomas como o entorpecimento de sentimento, o endurecimento do coração, perturbações do sono e pesadelos, alucinações e pânico. Perante este quadro, e os sentimentos de culpa constante, nalguns casos, surge o desejo de “reparar o aborto” com outra gravidez. O que, não raras vezes, levará a um outro e outro aborto. Sentimentos de autocondenação e perda da autoestima são extremamente frequentes o que pode, em casos extremos, levar até ao suicídio. Tudo isto, porque a relação biológica, psicológica e espiritual da mãe com o filho são irrefutáveis. Pela sua própria natureza, a mulher está predisposta a proteger, alimentar e cuidar do seu filho desde o momento da conceção.

O aborto é um ato extremamente violento contra a mulher. Qualquer que seja a mulher que passa por ele tem que ser tratada através de um diálogo não condenatório, mas de aceitação das próprias convicções. Um diálogo em que se compreenda e aceite a profunda dor da mulher. Não dar lugar ao silêncio, mas proporcionar o luto pela morte de um filho. O aborto quebra a relação primordial que a mãe estabelece com o seu filho desde a sua conceção e a única forma de vencer a síndrome é restaurando esta relação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Organização Mundial da Saúde (1989). Consumer involvement in mental health and rehabilitation services. Genebra: Organização Mundial da Saúde.

Schleiss, L. e col. Psychological consequences of induced abortion. Ugeskr Laeger.

TEXTO ORIGINAL DE PSICOLOGIA






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