Aluno que conversa em sala pode não ser indisciplinado, diz psicólogo

Por Thiago Varella

Sabe aquele aluno que conversa e até mesmo brinca em sala de aula? Pois, pode ser que ele seja mais disciplinado do que o colega quieto que não faz lição. Isso porque, na definição do psicólogo Marcos Meier, mestre em educação, indisciplina é quando o aluno não está nem aí para seu aprendizado.

“Disciplina vem da palavra discípulo. Sala disciplinada é aquela voltada para a aprendizagem. Se eu tiver uma turma barulhenta, mas disposta a aprender, ela é disciplinada. A indisciplina ocorre quando o aluno não está nem aí para aprender e se distrai com outras coisas, como o celular ou conversas paralelas. A indisciplina é a fuga da postura de aprender”, explicou Meier, um dos palestrantes da Bett Brasil Educar 2016, evento que ocorre em São Paulo nesta semana.

Claro que nem todo professor entende desta maneira. Aquele que ensina à moda antiga, ou seja, que enche a lousa com matéria e dá uma aula expositiva , se incomoda com qualquer tipo de barulho vindo de seus alunos. Por isso que, para Meier, a função dos professores mudou. Eles não mais expõem apenas o conteúdo, mas ensinam os alunos a aprenderem.

A exposição de conteúdo em sala de aula está aos poucos virando algo do passado por causa do avanço da tecnologia, na opinião de Meier. Hoje, os conceitos e conteúdos estão todos à disposição do estudante na internet. Se o aluno não aprendeu, ele pode assisir a um vídeo quantas vezes achar necessário. E, assim, vai chegar à sala de aula já sabendo os conceitos. Desta maneira, o professor vira um orientador em como resolver problemas, como aprofundar a matéria e como interligar seu conteúdo como outros conceitos.

“O professor hoje é mais mediador. Ele precisa instigar o aluno, provocar, elogiar, incentivar, para o que o aluno faça o movimento dele para aprender. O professor vai ser parceiro da aprendizagem em vez de grande responsável pela aprendizagem”, afirmou.

“Aluno não vai ver professor como alguém que controla a disciplina, mas sim como alguém que vai estar na sala de aula para ajudar. O aluno vai tentar ser o mais amigo possível desse professor. Ele sabe que todo seu conhecimento vai ser avaliado fora da escola por outros mecanismos e o professor vai ser seu parceiro para isso”, completou.

Mas, o psicólogo também deu um alerta. “É claro que o professor tem de coibir os exageros. O aluno não pode nunca atrapalhar o aprendizado”, completou.

Problema na formação dos professores

Para Meier, a formação dos professores brasileiros apresenta um déficit na área do controle da disciplina em sala de aula e isso pode se tornar um problema grave já que os estudantes percebem as carências do professor e se aproveitam disso para confrontá-lo.

“Nas licenciaturas e na pedagogia, o professor não tem nenhuma matéria sobre disciplina das relações ou a psicologia das relações. Existe a disciplina de psicologia do desenvolvimento. Por isso, o professor sabe as fases do desenvolvimento do jovem, mas não sabe como interagir com o aluno em cada uma dessas fases”, afirmou.

Professor bem treinado e com uma formação sólida evita conflitos em sala de aula. Segundo Meier, o professor precisa construir vínculo com seus alunos e exercer a autoridade. Tudo isso sem virar um “banana” e nem um tirano. “O professor precisa ter autoridade sobre sua turma com muito senso de justiça”, explicou.

O papel da família

As famílias também exercem uma função fundamental no aprendizado. Para Meier, a postura dos pais precisa ser a de fortalecer a autoridade do professor, mas isso nem sempre acontece.

“Antigamente, o aluno levava uma bronca do professor e se a mãe soubesse levava uma outra bronca. Era inadmissível que o aluno atrapalhasse. Hoje, leva uma bronca do professor e o pai vem para a escola perguntar porquê o queridinho foi questionado. A família está desautorizando o professor”, contou.

Por isso, segundo Meier, as famílias precisam ensinar os jovens que o professor é parceiro e está ali na escola para ajudá-los a crescer, se desenvolver e a tornarem-se cidadãos.

TEXTO ORIGINAL DE UOL 






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