Caso Clínico: A abordagem inicial!

– Vamos deixar uma coisa bem clara: Estou aqui por que a família está insistindo e tudo isso está me enchendo o saco. E já te aviso que não preciso de psicanalista e se esperas que eu vá falar de mim pode tirar teu cavalinho da chuva. Entendido?

Foi assim que aquela paciente se apresentou na sua consulta inicial marcada com insistência pela família.

O psicanalista logo pensou em dispensá-la e recusar o atendimento… mas (até hoje não sabe porque) entrou no jogo. Queria ver onde aquilo ia dar e respondeu:

– Sem problemas. Temos 50 minutos. Podemos falar o que quiseres. Podemos começar com Física Quântica?

– Tu estás maluco? Nem sei o que é isso!

– Certo. Podemos falar da reengenharia proposta por Maslow para reerguer o Japão pós guerra? Afinal esse teórico complementou todos os ensinamentos, de Taylor, Fayol e Ford!

– Ai Meu Deus! Minha mãe escolheu um psicanalista bêbado e louco?

– Oi? Preferes falar sobre a experiência europeia dos micro buracos negros? Penso que antes de afetar, isso pode confirmar e até dignificar a teoria da relatividade de Einstein. Que achas?

– Tu só pode estar “tirando com minha cara”, né?

– Não entendi. Podes me explicar o que é “tirando com minha cara”?

– Ah Tá! Tu já estás me irritando…

– Certo. Vou deixar ao teu critério. Sobre o que falaremos? Eu sugeri alguns temas, mas pelo jeito não gostaste de nenhum deles?!

O silêncio habitou o consultório e quase congelou o psicanalista e sua nova paciente naquela tarde tórrida de 40 graus em Porto Alegre.

Ele esperou. Ela pensou. E ela por fim manifestou:

– Sinceramente? Nada pessoal tá? Mas quero a tua Física Quântica se dane junto com a tal reengenharia do mané Japão. Aproveita e pega a tal relatividade do Einsten e enfia no teu buraco negro tá? […] TU NÃO VÊS QUE ESTOU SOFRENDO E SE CONTINUAR ASSIM EU VOU PIRAR?

O psicanalista a encarou com um olhar paternal e pensou que talvez fosse mais difícil despertar os primeiros demônios de sua nova paciente. E lhe sorriu enquanto observa uma lágrima que começava a cair… e disse:

– Não te preocupes. Estaremos juntos e vamos juntos desconstruir esse sofrimento. Estarei contigo e estaremos de mãos dadas enquanto atravessarmos o teu inferno.

A Psicanálise ajudou aquela jovem paciente na construção de sua vida. E até hoje ela frequenta o psicanalista com disciplina espartana.

André Lacerda – Psicanalista

P.S.: Seu livro Reflexões do Psicanalista na Vida Cotidiana, na edição eletrônica está à disposição de todos. Pedidos pelo email [email protected]






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