Cientistas erram feio em estudos sobre pessoas solteiras

Por Stephanie Pappas

Mais de 100 milhões de adultos nos Estados Unidos são solteiros, e a ciência sabe muito pouco sobre eles, diz uma psicóloga especialista no assunto.

Os estudos sobre os solteiros são extremamente falhos, diz Bella DePaulo, autora de Singled Out: How Singles Are Stereotyped, Stigmatized and Ignored, and Still Live Happily Ever After (Discriminados: Como os Solteiros são Estereotipados, Estigmatizados e Ignorados, e Ainda Vivem Felizes para Sempre) (Editora St. Martin’s Griffin, 2007).

Ela chama a atenção para o fato de que a maioria dos estudos indica que as pessoas casadas são mais felizes e saudáveis. Segundo ela, o problema é comparar dois grupos que podem ter sido muito diferentes antes da decisão de se casar ou não, disse.

E esses estudos colocam as pessoas solteiras em desvantagem ao misturar as que nunca se casaram com as que ficaram solteiras devido ao divórcio e à viuvez.

“Existem muitas falsas crenças sobre as pessoas solteiras e a vida de solteiro”, DePaulo disse ao site “Live Science” antes de uma palestra no início de agosto, durante o encontro anual da Associação Americana de Psicologia, em Denver (EUA). E essas falsas crenças são “às vezes apresentadas como sendo baseadas em pesquisas”.

Solteirice nos EUA

Existem cerca de 107 milhões de pessoas solteiras acima de 18 anos nos Estados Unidos, incluindo 93 milhões que não estão morando com outra pessoa, disse DePaulo.

Cerca de 63% dessas pessoas nunca foram casadas. O grupo de pessoas que nunca se casou está crescendo, independentemente dos segmentos: uma pesquisa do Pew Research Center, por exemplo, revelou que, até 2012, quando os dados foram coletados, cerca de 20% dos adultos acima de 25 anos nunca haviam se casado, comparados com apenas 9% na mesma faixa etária em 1960.

Com o casamento acontecendo cada vez mais tarde, as pessoas têm passado a maior parte do início da vida adulta solteiras. Dados do censo dos EUA mostram que a idade média do primeiro casamento é de 29 anos para os homens e 27 para as mulheres. Em 1960, as mulheres se casavam aos 20 anos, em média, e os homens, aos 23.

O foco cultural, disse DePaulo, ainda está firmemente ancorado em se casar. Tudo, desde comédias românticas até os benefícios do governo, incentiva a caminhada até o altar. Mas as oportunidades econômicas para as mulheres e o maior foco em forjar caminhos individuais rumo à felicidade se traduzem em mais chances de permanecer solteiro por escolha, disse a psicóloga.

“Precisamos abrir espaço para a possibilidade de que, para algumas pessoas, a vida de solteiro é a melhor vida”, acrescentou.

A ciência de ser solteiro

Essa afirmação parece ficar perdida diante da maior parte da literatura de psicologia disponível. O casamento e a coabitação de longo prazo estão associados com benefícios para a saúde, como a sobrevivência depois de uma cirurgia cardíaca e menores níveis de estresse e depressão.

O problema é que os estudos que comparam pessoas casadas e solteiras não podem designar aleatoriamente pessoas com tendência ao casamento ou à solteirice; é totalmente possível que o tipo de pessoa que se casa seja apenas diferente do tipo que não se casa.

Outro problema, segundo DePaulo, é que os estudos normalmente comparam pessoas atualmente casadas com as atualmente solteiras. Mas as solteiras podem ter sido casadas anteriormente, e depois se divorciado ou enviuvado. Um viúvo pode ser muito diferente de alguém divorciado, e ambos muito diferentes daqueles indivíduos que nunca se casaram.

No entanto, as pesquisas misturam todos esses grupos sob o guarda-chuva de “solteiros”.

Alguns estudos que monitoram as mesmas pessoas ao longo do tempo revelam que, quando as pessoas saem da condição de não casadas para o status de casadas ou passam a morar com alguém, nota-se um ligeiro aumento da felicidade — mas esse efeito lua-de-mel acaba rápido.

Essas pessoas também podem apresentar uma melhora da saúde, possivelmente ligada aos benefícios do casamento, como ter direito ao plano de saúde do cônjuge, segundo um estudo publicado em 2012. Esse mesmo estudo revelou, no entanto, que as pessoas solteiras mantêm laços sociais mais diversos, disse DePaulo.

“Parece que são as pessoas solteiras que, de maneiras importantes, estão nos mantendo juntos”, disse. Os solteiros também fazem mais trabalhos voluntários, e os filhos solteiros têm mais probabilidade de cuidar dos pais idosos do que os casados.

DePaulo agora está interessada em estudar os “solteiros de coração”, um grupo de pessoas que estão felizes solteiras e porque querem. A pesquisadora está desenvolvendo uma escala psicológica para identificar pessoas que se sentem dessa forma.

Pesquisas preliminares sugerem que existem alguns benefícios importantes para a solteirice. Por exemplo, pessoas com uma alta pontuação no desejo de passar tempo sozinhas têm menos propensão de ser neuróticas e maior probabilidade de ter uma mente aberta, do que aquelas que preferem estar rodeadas por outras pessoas.

Os solteiros também desenvolvem um portfólio diverso de habilidades — não podem depender de um parceiro para fazer o imposto de renda ou preparar o jantar —, o que lhes pode dar uma sensação de domínio sobre a própria vida, disse de DePaulo.

“O que acho que realmente precisamos é descobrir mais sobre o que é importante para as pessoas solteiras, como é a vida delas, o que valorizam — e isso nos dá um quadro muito mais completo e justo das diferentes maneiras de viver a vida”, disse.

O artigo original foi publicado no Live Science

TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST






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