O interesse por longevidade costuma girar em torno de dietas, remédios e “hábitos secretos”. Um grupo de estatísticos holandeses preferiu mirar nos dados brutos: registros de morte, faixa a faixa, por décadas. A pergunta era direta — até onde o corpo humano consegue chegar, em condições ideais?
Pesquisadores das universidades de Tilburg e Erasmus analisaram 75 mil óbitos na Holanda ao longo de 30 anos (até 2017). Em vez de olhar só médias nacionais de expectativa de vida, eles aplicaram modelos de valores extremos — técnica usada para estimar limites máximos em fenômenos raros — para identificar o ponto em que a longevidade deixa de avançar.
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O retrato que emerge tem dois andares. No primeiro, o “piso” da expectativa segue subindo com medicina melhor, vacinação, saneamento e menos mortes por causas evitáveis: países desenvolvidos já orbitam 78 a 81 anos de média.
No segundo andar, o do teto biológico, aparece um platô: por volta dos 90 anos, a curva de ganhos fica mais dura. Ainda há quem passe muito disso, mas a frequência cai rápido.
Quando o modelo é empurrado ao limite, surge a estimativa que interessa: por volta de 115 anos seria o limite máximo plausível da espécie no cenário atual.
O estudo ainda detecta diferença entre sexos: 115,7 anos para mulheres e 114,1 anos para homens. Em termos práticos, significa que melhoras no “piso” não têm, até agora, deslocado o “teto”.
Um dos autores, John Einmahl, resume o achado: vivemos, em média, mais do que antes, mas o pico etário não avança no mesmo ritmo. A interpretação é que existe uma barreira biológica difícil de atravessar sem intervenções que mudem processos de envelhecimento — e não apenas o tratamento de doenças.
Claro, há exceções famosas que testam o limite. O japonês Jiroemon Kimura alcançou 116 anos e 54 dias. Entre os supercentenários atuais, nomes passam dos 116 anos, atravessando pandemias e mudanças de século.
Casos assim são raros e, justamente por isso, ajudam a calibrar modelos: mostram que ultrapassar 110–115 anos é possível, mas improvável.
No fim, a mensagem é menos mística e mais operacional: políticas que ampliam a média (prevenção, diagnóstico precoce, controle de fatores de risco) continuam essenciais; já mover o teto exigiria novas estratégias biológicas — de desaceleração do dano celular a terapias que mexam nos mecanismos do envelhecimento.
Até lá, os 115 anos seguem como número de referência para onde a espécie, de tempos em tempos, consegue chegar.
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