Como realmente ajudar um amigo em luto

Por Allisson Fox

Presenciar o sofrimento de um ente querido, muitas vezes, pode ser intolerável. Por isso, é comum a pressa em ajudar quando alguém próximo está em luto. Mas muitos de nós não sabemos com certeza o que isso implica. O que dizer? O que não dizer? É melhor simplesmente não dizer nada?

A menos que você esteja diretamente passando pela mesma situação, pode ser difícil saber como a pessoa se sente e como lidar com isso. Cada pessoa enfrenta o luto de maneira diferente. Felizmente, existem várias formas de apoiar alguém que possa estar sofrendo.

Conversamos com alguns especialistas sobre como oferecer conforto e ajudar um amigo que perdeu um ente querido ou algo importante. Abaixo estão algumas dicas importantes para se ter em mente.

1. Lembre-se: não há maneira correta de sofrer.

“A primeira coisa que devemos saber é que cada pessoa sofre de maneira diferente”, disse Dan Reidenberg, diretor executivo da organização Suicide Awareness Voices of Education, de prevenção ao suicídio, e presidente da Associação Americana de Psicoterapia, em entrevista ao The Huffington Post.

“Algumas pessoas sofrem muito, de forma muito rápida e depois seguem em frente”, acrescentou.

“Algumas pessoas sofrem de maneira privada. Algumas pessoas sofrem intermitentemente. Algumas pessoas querem dormir muito; algumas pessoas querem conversar.”

Tenha a mente aberta sobre o processo de cada um e saiba que o luto é uma resposta a qualquer tipo de perda, segundo Reidenberg. Alguém pode sofrer por causa da morte de um parceiro ou animal de estimação, pela perda de um emprego ou mesmo por se mudar de uma casa adorada para um lugar novo.

Nossa cultura diz que temos uma certa quantidade de dias para lidar com a perda antes de sermos capazes de ficar novamente de pé. Algumas religiões até mesmo definem o número de dias e meses para o luto. Mas especialistas concordam que não é possível encaixar o sofrimento dentro de parâmetros específicos.

“Não há um prazo definido; por isso, não pressione as pessoas”, disse Reidenberg.

2. Tente evitar clichês.

Frases como: “O tempo cura tudo”, “Você vai se recuperar”, “Eles estão em um lugar melhor” e “Sei como você está se sentindo” devem ser evitadas, disse ao HuffPost Michelle Carlstrom, especialista no tratamento de pessoas em luto e diretora sênior do departamento “Trabalho, Vida e Envolvimento”, da Johns Hopkins University.

“[Clichês] normalmente são frases de preenchimento, porque não sabemos o que dizer”, afirma Carlstrom. “Mas clichês desse tipo, na verdade, subestimam o momento presente, podem menosprezar a experiência e exigir que a pessoa em luto supere o sofrimento e ‘volte a ser feliz’.”

Carlstrom sugere fazer perguntas abertas quando for apropriado. Tente estas perguntas:

1 “Como foi seu dia?”

2 “Como foi sua semana?”

3 “Como você está se sentindo?”

Quando você não souber o que fazer ou dizer no momento, pode simplesmente dizer: “Sinto muito” ou “Não consigo imaginar como você está se sentindo”. Segundo Carlstrom, são frases geralmente úteis. Você também pode oferecer um abraço.

“As lágrimas virão e tudo bem — não tente conter as lágrimas”, explicou. “Elas têm um propósito.”

3. Abra mão do controle.

“O maior problema em relação ao luto quando você perde algo é sentir que a vida está fora de controle”, disse Reidenberg.

Muitas vezes, pode ser útil entrar em contato e sugerir planos, como ir a um restaurante ou ao cinema. Você pode sentir que a pessoa que está sofrendo não seja capaz de tomar a iniciativa, por isso depende de você tomar todas as decisões. Mas isso é um padrão negativo, explica Reidenberg.

“Não é útil para a pessoa que está sofrendo, porque alguém está literalmente controlando tudo”, disse.

Em vez de tomar todas as decisões, pergunte ao seu amigo ou amiga o que seria melhor: almoço ou jantar? Cinema ou uma caminhada? Redefina sua agenda em função deles e empodere a pessoa que está sofrendo para definir o plano, disse Reidenberg. A impressão é de que a vida virou de cabeça para baixo, mas esta pequena atitude proporcionará certa autoridade ao seu amigo.

4. Leve um cachorrinho ou gatinho.

Muitas pesquisas corroboram o papel da companhia de animais para ajudar pessoas a enfrentar o luto.

“Os cachorros têm uma sensibilidade incrível em relação à tristeza”, disse Reidenberg. Mas pessoas que estão em luto não precisam necessariamente fazer uma terapia formal com animais de estimação nem mesmo adotar um cachorro. Apenas passar tempo com o gato de um amigo ou uma caminhada com o cachorro ao parque podem funcionar.

“Todas as vezes que você traz um filhote, um cachorro, as pessoas realmente se iluminam”, explicou Reidenberg.

5. Esteja ciente das diferenças de gênero.

Que homens e mulheres expressam suas emoções de forma diferente não é novidade, mas vale um útil lembrete do que esperar. Homens e mulheres tendem a sofrer de forma diferente.

As mulheres podem estar dispostas a se abrir mais do que os homens, enquanto eles se isolam mais, recorrem mais ao álcool e até mesmo expressam o luto na forma de irritação, segundo Reidenberg.

6. Seja um amigo preocupado e atento.

Esteja atento a sinais de “luto complicado”, um processo no qual a pessoa que está sofrendo pode ficar deprimida ou apresentar tendências suicidas, alerta Reidenberg.

Se seu amigo não está participando dos eventos corriqueiros da vida cotidiana, deixa ou perde o emprego ou se afasta de outros relacionamentos, isso pode ser um indicador de que algo mais sério esteja ocorrendo. Se notar esse tipo de comportamento, fale com seu amigo e sugira que ele procure um especialista para buscar apoio adicional e tratamento.

7. Acima de tudo, esteja presente.

No final das contas, uma simples visita já ajuda muito.

“Pessoas em luto se sentem muito isoladas e evitam entrar em contato para dizer isso, mas precisam e querem ser ouvidas”, disse Carlstrom. “A melhor coisa que você pode fazer é escutar de forma atenta, sem julgamentos. Elas precisam falar e compartilhar suas lembranças em voz alta.”

E, se outros amigos perguntarem como a pessoa em luto está se sentindo, seja honesto. Se realmente estão sofrendo, as pessoas precisam saber para ajudar também.

“O mais importante é que as pessoas saibam a verdade”, disse Reidenberg. “Se minimizarmos o impacto do sofrimento sobre a pessoa, não estaremos fazendo nenhum favor ao esconder isso dos outros. Queremos que a rede de apoio que elas possuem saiba o que realmente está acontecendo.”

Imagem de capa: Shutterstock/arrowsmith2

TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST






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