A Empatia Pode ser Perigosa? Uma análise sob a perspectiva de Paul Bloom

Por Roberto Melo

Quem nunca presenciou uma situação em que uma mãe ou pai defende passionalmente um posicionamento eticamente errado que seu filho tomou em uma disputa; uma briga de crianças, por exemplo? Neste tipo de situação, é comum alguém pronunciar o comentário compreensivo: “mãe é mãe” ou “pai é pai”, ou seja, postulando, como compreensível e até esperado, o fato que um pai ou uma mãe distorça a razão para tomar partido em favor de seu filho.

Sobre estes sentimentos que alerta o psicólogo estadunidense, Paul Bloom. Segundo Bloom, existe uma tendência de nos colocarmos favoráveis às pessoas pertencentes ao nosso grupo ou as que nos são mais próximas: parentes e amigos. Isso ocorre através da compaixão e simpatia que sentimos por pessoas próximas. Essa tendência é inata, crianças, já com três meses de idade, apresentam-na.

Empatia e compaixão são estados diferentes. Enquanto, a empatia significa a nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, a compaixão significa a afeição que sentimos pelo outro. Ocorre que estes dois modos de ser, o compassivo e o empático, mantém uma íntima relação. Quanto mais sentimos empatia por uma pessoa, é mais provável que teremos por ela mais compaixão e, quanto mais sentimos compaixão por uma pessoa, mais somos capazes de nos colocarmos no lugar deste outro e compreender seus sentimentos. Do mesmo modo, a capacidade empática diminui drasticamente para pessoas que nos são detestáveis, simplesmente não conseguimos nos colocarmos no lugar desses.

 

Outra característica importante da empatia e consequentemente, da compaixão, é que ambas podem ser exercitadas e ampliadas através de um esforço consciente, porém ambas ocorrem para além de nossa vontade consciente, através da afetação do nosso meio social. Isso significa que, como humanos, somos tomados por tais sentimentos em nossas relações sociais. Isso não significa dizer que somos sujeitos passivos refém destes, mas que temos que lidar com eles.

E nesse campo reside o perigo de nos guiarmos apenas por sentimentos empáticos. Tendemos a afrouxar a nossa ética e favorecer os que nos são próximos, membros do nosso grupo e enrijecê-la com os que não gostamos. Daí a origem do dito popular “aos meus inimigos, a lei”.

Bloom aponta, como remédio para tal questão, o uso de outra capacidade humana, que igualmente pode ser exercitada e desenvolvida, a razão. Através do uso da razão, podemos ter o discernimento do melhor comportamento ético e superar as inclinações antiéticas do nosso desejo.

Deste modo, não se pretende tirar a empatia da lista dos nobres sentimentos. Através dela, podemos ter uma preocupação genuína com a dor do outro e nos alegrarmos com sua felicidade, devemos, apenas, colocar uma ressalva no seu uso, já que ela é seletiva em relação aos outros que escolhe para oferecer suporte. A empatia, então, é uma faculdade deve ser usada conjugada com a outra, a razão, para termos o nosso melhor comportamento ético. Voltando ao exemplo do início do texto, é plausível e desejável que uma mãe e um pai defenda seu filho, porém, do ponto de vista social, é importante que a mãe passe os valores éticos que considera corretos para seu filho.

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