Quando a trama força o espectador a encarar escolhas difíceis, finitude, culpa, fé e identidade, a sessão vira exercício mental. A graça aqui não está em “adivinhar o final”, mas em acompanhar personagens que precisam decidir — e lidar com as consequências, sem garantias de conforto. Abaixo, quatro obras que fazem isso com estilos bem diferentes.
Essas histórias costumam colocar personagens diante da necessidade de agir sem certezas, assumindo o peso das próprias decisões. O sentido não aparece pronto: nasce do que cada um faz, do que escolhe sustentar ou abandonar.
O conflito interno é permanente, com razão, crença, desejo e medo puxando para lados distintos — e é nesse atrito que a narrativa encontra força.
1) O Milagre (2022), Sebastián Lelio
Do que trata: uma enfermeira inglesa viaja à zona rural da Irlanda do século XIX para observar uma jovem que diz viver sem comer, sustentada pela fé. A comunidade transforma o caso em símbolo; a enfermeira, cética, precisa decidir o limite entre assistir e intervir.
Por que é existencialista: fé, ética profissional e cuidado entram em colisão. O filme pergunta o que vale uma “verdade” quando ela ameaça uma vida — e quem responde por uma omissão.
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2) The Discovery (2017), Charlie McDowell
Do que trata: após um cientista afirmar ter provado a existência do pós-vida, o mundo entra em crise: milhões se matam esperando algo “melhor”. Nesse cenário, um filho retorna à casa do pesquisador, carrega lutos antigos e conhece alguém que também tenta reencontrar sentido.
Por que é existencialista: se existir “algo depois”, o que isso faz com o valor do presente? O filme explora culpa, livre-arbítrio e a tentação de escapar do agora em nome de uma promessa.
3) Birdman (2014), Alejandro G. Iñárritu
Do que trata: um ator marcado pelo passado de super-herói tenta se reinventar na Broadway. Entre ensaios caóticos, vaidades alheias e a própria voz que o sabota, ele corre atrás de relevância artística e pessoal.
Por que é existencialista: identidade e reconhecimento viram campo de batalha. O protagonista quer ser “alguém”, mas precisa decidir para quem — para a crítica, para o público ou para si mesmo — e quanto de si aceita perder nessa busca.
4) Meu Nome é Eileen (2023), William Oldroyd
Do que trata: nos anos 1960, em Boston, Eileen cumpre rotina sufocante num centro de detenção juvenil e volta para casa a um ambiente tenso. A chegada de uma psicóloga carismática abre brecha para desejo, admiração e uma possível vida alternativa — até que segredos reorientam tudo e empurram Eileen para escolhas que deixam marca.
Por que é existencialista: a protagonista mede liberdade contra lealdade, fantasia contra responsabilidade. O “eu” que Eileen poderia ser depende do risco que aceita correr — e do preço que topa pagar.
Vale prestar atenção às decisões que movem a trama e ao que fica sem resposta; o silêncio também comunica. Pergunte a si mesmo que escolha faria com a mesma informação e o mesmo risco. Esses quatro títulos funcionam como laboratório de ideias: menos slogan, mais fricção — e, no fim, aquela sensação boa de ter a cabeça trabalhada.
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