Observar e Absorver: a vida precisa de sentido e empatia

Por Guilherme Moreira Júnior

O que é necessário para vivermos? Quais as coisas que, mediante a esse mundo moderno, realmente precisamos para termos uma vida plena e calorosa? Pode parecer controverso dedicar reflexões tão abrangentes numa época da qual o capitalismo é dominante, onde o dinheiro e os bens materiais surgem no horizonte a fim de suplantar todos os desejos e anseios da sociedade. Talvez seja uma discussão realmente teórica e pouco importante. Talvez. Mas como nos comportamos ao encararmos diariamente o ódio, a intolerância e os maldizeres de um corpo social construído para menos sentir? Adentramos nesse abismo emocional quase que corriqueiramente e sequer percebemos. E isso é preocupante.

Eduardo Marinho é um homem comum. Simples. Sem posses. Veio de uma família afortunada. Estudou nos melhores colégios. Um dia, largou tudo. Disse que queria encontrar o sentido da vida. Marinho ainda o busca, mas hoje, com sorrisos e as mangas arregaçadas, consciente das suas escolhas. Também fundamental e de peito aberto para observar e absorver assuntos e sentires pouco próximos da maioria. Estas são apenas algumas das linhas desconstruídas e conversadas no documentário Observar e Absorver, dirigido por José Marques Carvalho Junior (também conhecido como Junior Sql) e disponível na íntegra, gratuitamente, no Youtube.

A simplicidade flerta na vida de Eduardo Marinho em todos os momentos mostrados no vídeo. O cronista das ruas e das artes, na verdade é um cidadão do mundo – não no sentido territorial, mas naquele imerso nos questionamentos sobre a vida e sobre as importâncias de quem não sente medo de viver. Marinho vive. Ele não sobrevive. O que começou com algumas conversas gravadas dos seus dias de trabalho expostas nas redes sociais, tomou proporção até chegar nesse documentário legítimo, sincero e por que não, carregado do mais inciso amor? Sim, inciso amor. Um sentimento que desperta proximidade e não restrito no plano das ideias. Marinho atua, dia após dia, através do seu próprio eu, de forma a interagir e definitivamente interferir para mudanças.

Fala de tudo. Sente mais ainda. E as pessoas param e ouvem. Ouvir aqui é diferente de escutar. Ouvir é colocar o coração para fora, sem medo, despido dos velhos hábitos e personagens caricatos oriundos da infância. É sinestesia abarrotada de vontade. Vontade de evoluir e de ser alguém melhor para uma sociedade melhor. Sem pretensões e campos comportamentais utópicos. Porque para que exista uma real mudança no coletivo, primeiro precisamos mudar a nós mesmos. Permitir-nos sair dessa zona de conforto e comodismo que nos encontramos quando, contrariados por egocentrismos, batemos. Excluindo os mais fracos. Virando os olhos para mais pobres. Fazendo piada com quem é diferente do nosso convívio. Se faça a seguinte pergunta; quantas vezes eu perguntei para alguém hoje “tudo bem?”. Mas não na forma de cumprimento, mas de interesse. Daquela estampada e disposta de empatia para ouvir e conversar. Não importa o assunto. Não importa a resposta. A experiência pura e simples do amor começa assim, em pequenas atitudes e preocupações com o próximo.

Observar e Absorver demanda escolha. É romper todas as barreiras de quem você é hoje, abrindo espaço para algo novo ser lapidado, mas sem previsão de término. Tudo isso com mais e mais empatia. Pelas palavras, pelas pessoas, pela poesia e por todas as coisas que nos cercam. Cada qual no seu próprio tempo, sem dúvida. Esqueçamos aspirações políticas e disseminações de verdades universais que reprimam o direito do outro. Todavia, fazendo da vida um caminhar para ser feliz consigo e, consequentemente, contaminar todos ao redor. Sorrindo e abraçando novos patamares. “Ser dois e ser dez e ainda ser um”, compuseram Herbert Vianna e João Barone.

TEXTO ORIGINAL DE CONTIOUTRA






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