Sem medo de explodir o computador: Como aproximar a tecnologia dos idosos

Por Caio Delcolli

Imagine que você pegou um bonde andando. E entende muito pouco, ou nada, do que acontece dentro dele. Imagine também que o bonde segue em frente mudando em alta velocidade. É mais ou menos nessas condições que se encontram idosos (pessoas com mais de 60 anos) que começaram a usar as tecnologias atuais, como as de comunicação, relacionamentos e serviços.

O contexto cultural e tecnológico do qual eles vêm é completamente diferente do de hoje, no qual é tão frequente a imagem de uma pessoa com um smartphone em mão, aberta à interação com o mundo por meio de redes sociais. As referências deles são outras. “Eles têm medo de quebrar o celular, de que ele pegue vírus, de não saber mexer, travar. E também há um pouco de medo do quão ampla a internet é”, diz ao HuffPost Brasil a pesquisadora Taiuani Marquine Raymundo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Raymundo, que é terapeuta ocupacional e trabalha com a inclusão digital de idosos na instituição, acredita e defende que, apesar das dificuldades, eles são perfeitamente capazes de aderir ao uso das tecnologias atuais, que abrangem tantas pessoas. Aprender a usá-las “empodera” os idosos, conta a especialista. Eles se tornam pessoas mais independentes, produtivas, práticas no dia a dia e, claro, socialmente interativas. Segundo Raymondo, na maior parte das vezes, eles gostam e buscam aprender essas tecnologias para participar desse mundo, o que permite conversar com a família e amigos, se divertir e se informar.

Muitos buscam orientações de como usar aplicativos de transporte público e saúde. WhatsApp, Facebook e câmera fotográfica são alguns dos serviços e funções que mais despertam a vontade de aprender a usar, completa a especialista. O HuffPost separou 4 fatos cuja compreensão é essencial para dar apoio ao idoso que busca se integrar a um mundo completamente estranho para eles:

1. Eles têm o tempo deles.

A dificuldade é inerente ao envelhecimento, diz a pesquisadora. “A capacidade de processamento de informações não é a mesma, não é automática. Eles precisam treinar e frequentemente nos dizem [no grupo de pesquisa] que precisam de apoio o tempo todo. As famílias tendem a não ter paciência.”

2. A tecnologia pode ser a própria barreira.

“O produto é voltado para o jovem. E os idosos se queixam bastante da sensibilidade das telas touchscreen. Elas vão muito devagar ou muito rápido. A tecnologia é uma facilitadora, mas algumas vezes também é uma barreira, porque atrai ainda mais dificuldades”, conta.

 

3. Eles gostam de aprender.

A família é a grande parceira para esse aprendizado. É importante ter paciência e entender que a troca intergeracional de conhecimento é uma grande forma de troca cultural. De acordo com Raymundo, o ponto-chave disso são os jovens. “O idoso é capaz de aprender, mas tem que se respeitar o tempo, o interesse e o jeito dele”, conta. “Todo mundo pode aprender e tem seu tempo para isso, independente da idade. A tecnologia pertence a todas as gerações e as pessoas têm que se apropriar dela.”

4. Eles também fazem parte de um mundo globalizado.

“Não tem como fugir da tecnologia e eles tendem a gostar das possibilidades que ela traz”, explica Raymundo. A pesquisadora diz que incluí-los nesse mundo e mostrar as novidades a eles é importante para que eles se sintam parte do mundo globalizado. “Desde que comecei o grupo, em 2013, as demandas deles por aplicativos de relacionamento, como Tinder e Happn, cresceram bastante.”

“Ensiná-los é nossa forma de retribuir o conhecimento que eles já aprenderam e passaram a nós. Assim eles exploram mundos que, sem a tecnologia, não seria possível explorar.” Se as tecnologias atuais já são parte essencial da vida em sociedade e a expectativa de vida só cresce ao redor do mundo, faz todo sentido que idosos também sejam parte dessa cultura.

Imagem de capa: Shutterstock/A and N photography

TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST






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