Vencer a ansiedade

Por Patricia Ramirez

Dirigir, falar em público, relacionar-se com um grupo de pessoas conhecidas, matricular-se em um curso interessante, ir ao médico, fazer compras, educar os filhos, passar por uma prova, paquerar, relaxar em um jantar com amigos, ver um filme no cinema, andar de metrô, correr ou fazer uma viagem de férias. São situações cotidianas, nas quais se poderia aproveitar e aprender, mas que se transformam em um verdadeiro desafio ou até martírio para as pessoas que sofrem de ansiedade.

Alguns dos sintomas que acompanham essas pessoas são sensação de sufoco, asfixia, palpitações, transpiração, tensão muscular, boca seca, bloqueios mentais, sensação de irrealidade, estado de confusão mental, esquecimento de palavras ou até do desenrolar de uma conversa, insônia, apatia e vontade de chorar. A cabeça parece uma máquina de lavar centrifugando. Uma ideia atrás da outra, os pensamentos se repetem, se atropelam, questionando, avisando, ameaçando, fazendo a pessoa sentir que é inútil e não é capaz de tomar o controle de sua vida. Basta!

Respire, tenha um momento de calma e leia a seguir como ganhar o jogo contra a ansiedade. Aplicando os conselhos abaixo, você aprenderá a colocá-la no lugar que merece. Você pode escolher os pensamentos e as emoções que o tornarão uma pessoa com recursos. Não seja uma marionete de suas emoções. Você tem capacidade para escolher e participar ativamente da sua vida.

Mude o foco da atenção. Seus sintomas não são os protagonistas, o protagonista é você. Chega um momento em que surge o famoso medo do medo: você fica dependente de como seu corpo se comporta, da intensidade com que se manifestam seus sintomas de ansiedade e como eles condicionam sua vida. Você faz um check-up, se submente a exames, comprova suas funções vitais para decidir se está apto ou não para enfrentar cada situação. Todo o seu mundo gira em torno do que ocorre dentro de você.

Quanto mais concentrar sua atenção naquilo que não quer que ocorra, mais aumenta a possibilidade de que aquilo aconteça. Por que? Porque você está instruindo seu cérebro a ficar dependente de qualquer sinal de alerta. Você converteu em ameaça sinais que não são isso. Sua mente agora está treinada para buscar palpitações, transpiração e outras reações. E quando as detecta, ela o adverte dizendo “Perigo!”. O sinal vai rapidamente ao sistema nervoso simpático, e este se acelera pensando que tem que protegê-lo da fera. Ele prepara você para sair correndo ou lutar.

E como ninguém luta com ferocidade estando em estado de calma, a mente ativa todos os seus sentidos. O coração bate forte, seus músculos se tencionam, você começa a suar e a respirar de forma agitada. Você está pronto para o combate. A resposta do corpo é lógica. O que não é lógico é que seu mundo seja tão ameaçador. É preciso parar de fazer tanto exame.

Quando muda o modo em que vê as coisas, as coisas que vê mudam também”, Wayne Dyer

Conselho: Aprenda técnicas de relaxamento e meditação? Já experimentou o mindfulness? Sua atenção tem que estar naquilo que ocorre a seu redor. Não no que resta, mas sim no que o alimenta. Se você está passando uma boa tarde na companhia de amigos, observe seus rostos, entre de cabeça na conversa, saboreie o que está sendo servido, preste atenção na temperatura e na paisagem. A vida está acontecendo a seu redor. A vida não está nas respostas de seu organismo. A atenção não pode estar em dois assuntos ao mesmo tempo. Ou você vai notar o quanto está se sentindo mal ou vai se concentrar em aproveitar o momento. E se um sintoma der sinais, fique tranquilo, deixe-o acontecer. Mas não converse com ele nem expresse seu temor. É maravilhoso ter sintomas: significa que você está vivo!

Converse consigo mesmo em outro idioma. O tipo de vocabulário que uma pessoa ansiosa mais utiliza para se expressar é algo como “estou com medo, estou sobrecarregado, não posso, e se…, não estou preparado, outra hora, estou tremendo, está tudo péssimo” e inúmeras expressões que tendem ao catastrofismo e com as quais a pessoa se sente insegura e incapaz.

A maneira que você tem de pensar e se expressar condiciona suas emoções e seu comportamento. Se expressa que há ameaças, seu sistema nervoso se ativa e desencadeia a resposta da ansiedade. Simples assim. É a terceira lei de Newton: ação e reação. Você precisa falar consigo mesmo em outros termos. Você passa tanto tempo antecipando o fracasso e o perigo que carece de expressões e do vocabulário adequado para enfrentar as situações.

Conselho: Quem escolhe os pensamentos que invadem a sua mente? Ninguém mais do que você. Agora você está acostumado a se relacionar com um estilo cognitivo alarmante. Mas é possível substituí-lo por outro que o permita contemplar o mundo sem esse caráter ameaçador. Para modificá-lo, você terá que escrever… Diante da situação temida, anote como gostaria de enfrentá-la e os pensamentos que poderiam ajudá-lo. Não evite pensar nela, apenas aceite-a. Ela não é perigosa, só incômoda.

Desapaixone-se. Não de sua namorada ou esposa, mas da possessiva ansiedade. Se você se der conta, verá que se comporta com ela como se vivesse um romance em plena efervescência. Você a observa, a encara, responde a ela, fala com ela e fala dela para todo o mundo. Seu círculo se limita à ansiedade. Ela decide por você se pode fazer algo ou não. Você deu a ela poderes demais. Mantenha um diálogo para colocar uma distância entre vocês, e até a desafie.

Conselho: Cada vez que notar que está atemorizado pelos sintomas, em vez de verbalizar “não aguento mais, estou péssimo, assim não posso continuar, não sairei nunca desse buraco”, diga algo como “que chata, o dia inteiro com um sintoma aqui, outro ali. Se você não se importa, vou ler, trabalhar, correr etc., e mais tarde, se tiver vontade, volto a te escutar. Agora não é hora”.

Deixe de evitar. Cada vez que acontece aquilo que você teme, é comum se sentir protegido e conformado em sua zona de conforto. Mas este não é o lugar onde você quer estar. Aí não acontece nada interessante, apenas ter tudo sob controle.

 

Conselho: Proponha a si mesmo se transformar em um explorador, um aventureiro. A vida é para ser descoberta, inclusive atravessando emoções desagradáveis. Qualquer um que estabeleça um desafio para si mesmo sabe que haverá momentos de alegria e orgulho, e outros de desvanecimento, desilusão, esforço e preocupações. Não é preciso esperar por uma luz para dar um passo adiante. Será necessário sair da sua zona de conforto com dor de cabeça, enjoos e palpitações. E sabe o que você vai descobrir? Que é capaz de fazer isso, que não é tão dramático quanto antecipava e que as emoções desagradáveis não são incompatíveis com a vida cotidiana. Quanto antes você se familiarizar com elas, melhor. Rafael Nadal gosta de jogar tênis, mas não deve apreciar competir com as mãos cheias de bolhas. Ele o faz mesmo assim. É o passo necessário para tentar ganhar.

Minha vida foi cheia de desgraças terríveis, a maioria delas nunca aconteceu”, Michel de Montaigne

Tome uma atitude. Ninguém vai fazer isso por você. Deixe de ruminar. A solução não está em pensar cada vez mais em seu mal-estar. A solução está em recarregar as baterias e fazer o que é incompatível com a resposta de ansiedade: relaxar, pensar de maneira útil, rir muito e desdramatizar mais, descansar, levar uma vida equilibrada, ter amigos e bons momentos para guardar na memória.

Conselho: Não tente racionalizar tudo. Deixe de pensar mil vezes no que pode acontecer. A vida tem seu ponto de inconsciência. Se você quer se superar, terá que correr algum risco, ainda que pequeno. Mas a vida está cheia deles. Nada acontece se você não participa. E cometa erros. Falhar faz parte da aprendizagem. O único que pode se reprimir e censurar é você mesmo, e deve se lembrar o tempo todo que não é obrigado a fazê-lo.

Aquele que não corre nenhum perigo é aquele que deixou de viver por tudo sempre sob controle. Não desanime. Acomodar-se e proteger-se não é a solução para sua ansiedade. Se você colocar estes conselhos em prática, posso até já prever o resultado do jogo: Ansiedade 0 – 5 Você.

Imagem de capa: Shutterstock/Eshma

TEXTO ORIGINAL DE EL PAÍS






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