A violência escolar- Parte I

PARTE I

A problemática da violência escolar é um tema bastante complexo de ser analisado e compreendido em função de vários aspectos específicos surgidos ao longo de sua trajetória, marcada por muitas influências dentro da escola e pela sociedade. Apesar de comentarmos sobre algumas dessas influências, nosso estudo procura centralizar o seu foco, sobre as intervenções pedagógicas e educacionais dos professores durante suas atividades no contexto escolar.

Assim sendo, este artigo tem por finalidade evidenciar que o problema em questão, possui um contexto social e histórico e, por isso, não se trata de um mero devaneio teórico.

O ser humano tem por essência e características, o seu ser social. Somos o que somos e, alcançamos o que foi possível alcançar, porque vivemos em grupo e porque descobrimos que sem compartilhar, não existe família, nem amigos e nem comunidade. Torna-se impossível o sucesso pessoal sem a existência de boas relações interpessoais. Só vivenciamos em nossa plenitude, quando nos inter-relacionamos com os nossos semelhantes e com as manifestações da vida ao redor.

A maior parte de nossas vidas é passada em contato com outras pessoas, compartilhamos e entrelaçamos nossas diferenças permeadas em todas nossas experiências, no qual tentamos harmonizar os nossos interesses pessoais com os interesses coletivos de um determinado grupo social. Relacionamo-nos com nossos familiares, com os amigos, com os professores, com pessoas que nem conhecemos, ou seja, os relacionamentos interpessoais acabam consistindo na essência da vida em sociedade, ou pelo menos deveria ser assim.

Vygotsky (2000, p.120) diz que: “O homem é um agregado de relações sociais incorporadas num indivíduo. (…) O ser humano é estimulado enquanto interage com pessoas de sua convivência e em cooperação com seus semelhantes”.

Sendo assim, atualmente, o desafio que se impõe é pensar na formação de um novo ser humano, capaz de aprender a não só transformar o mundo em que vive, como também a interagir com ele. Dentro desse processo de interação, tentamos com frequência, através de nossas ideias e atitudes, mudar os comportamentos dos outros, assim como temos também, os nossos comportamentos influenciados. Neste embate de forças e ideias, é que acabam surgindo os conflitos.

O equilíbrio social se dá pela coordenação das diferenças existentes, cada perspectiva individual pode ser diferente uma das outras e, mesmo assim, não comprometer o conjunto. Dentro de sociedades democráticas, pessoas e grupos com interesses  opostos ou divergentes,  devem saber respeitar o dissenso,  ou seja, os conflitos que são um processo natural de uma sociedade, e surgem a partir de opiniões e maneiras diferentes de se ver ou interpretar algum acontecimento, e com isso, dependendo da flexibilidade e do bom senso com que o outro demonstre, faz com que apareçam dois caminhos distintos dentro de nossa convivência: um positivo ou construtivo para as transformações sociais e relações humanas, e um outro negativo ou destrutivo.

O caminho construtivo vai de encontro ao crescimento e diálogo, em busca do consenso, tornando-se importante dentro de uma prática democrática onde prevaleça uma postura cooperativa, permitindo: o reconhecimento das diferenças; o crescimento do amadurecimento social; o estimulo do pensamento crítico e criativo; o reforço da consciência para tomada de decisões; o incentivo das diferentes formas de encarar os problemas, indo de encontro a soluções justas e satisfatórias para todos os envolvidos, buscando sempre os valores positivos.

Já no caminho destrutivo, ao contrário do anterior, prevalece uma postura mais competitiva, que busca: medir força; não aceitando as diferenças e nada que possa modificar a sua forma individualista e egocêntrica de lidar com o mundo; indo de encontro a valores negativos e, com isso, fazendo surgir desentendimentos entre as pessoas, podendo ocorrer diversas manifestações de violência. Infelizmente esse segundo caminho, parece ser seguido, cada vez mais pelo ser humano.

Podemos observar, hoje em dia, diante de um mundo cada vez mais desumano, individualista e egocêntrico, com valores éticos e morais distorcidos, a violência é mostrada das mais diversas maneiras, tanto em casa, como na rua ou na escola. Não há como negar que vivemos tempos complicados, em que a violência e agressividade são crescentes, tanto fora como dentro da escola.

Nós estamos constantemente, fazendo um juízo de valor sobre tudo o que ocorre em nossas vidas, mesmo que às vezes, de forma inconsciente ou sem uma reflexão aprofundada dos mesmos. As referências e os valores que guiam nossos comportamentos e ações acabam, na maioria das vezes, reproduzindo a visão deste tipo de mundo em que vivemos e, com isso, as novas gerações, se ressentem de uma base mais sólida para modificar este quadro.

Podemos dizer, que a ideologia que alicerça o mundo moderno é a do individualismo egocêntrico e da falta do diálogo, o que tem tornado as relações interpessoais, cada vez difíceis. As relações  interpessoais se  tornam  fluídas e  inconsistentes,  pois toda elas carecem de  valores éticos e morais que estabeleçam bases mais sólidas. Visto que os nossos relacionamentos na maioria das vezes, são  alienados,  cada  um  de  nós  passa a ter  a clara  sensação  de estar só no mundo,  destinados a viver dentro de seus próprios valores. Esta escassez de diálogo, leva a discriminações e violência escolar.

Visto que o desenvolvimento moral da criança e do jovem depende muito das ações e atitudes dos adultos, as formas como elas aprendem a respeitar e a serem respeitadas, são vendo como os adultos que os rodeiam se tratam entre si, e aos outros.

Esse grupo, hoje em dia, carece de modelos coerentes, não só em casa, como também na escola e, com isso, eles acabam seguindo modelos de comportamento não muito saudáveis e corretos, influenciados principalmente pelos meios de comunicação, já que da televisão, ele consegue alguma atenção. Sendo assim, o que eles aprendem passa a ser tudo aquilo que são tomados como exemplos, independente de serem positivas ou negativas, nessa hora, as ações e imagens parecem ter muito mais poder do que as palavras.






Fernanda Luiza Kruse Villas Bôas nasceu em Recife, Pernambuco, no Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Bôas tem vários livros publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingivel; é um fantasma de sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia analítica, caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.