‘A ansiedade me fez vencer na vida’, declara psicóloga brasileira que leciona em Harvard

A história de Luana Marques é um verdadeiro exemplo de determinação e superação. Nascida e criada em Governador Valadares, Minas Gerais, ela enfrentou desafios desde cedo, lidando com instabilidade financeira e conflitos familiares. No entanto, sua jornada a levou além das fronteiras do Brasil, culminando em uma carreira de destaque como professora de psicologia na renomada Escola de Medicina de Harvard.

Recentemente, Marques lançou no Brasil o livro “Viver com Ousadia”, uma obra que combina ciência e experiências pessoais para ajudar as pessoas a lidarem com a ansiedade e o estresse. Em uma entrevista exclusiva ao GLOBO, a psicóloga compartilhou insights valiosos sobre o tema.

Para a psicóloga, a nossa verdadeira inimiga não é a ansiedade, mas sim a evitação psicológica: “Todo mundo, no mundo inteiro, vai ter um certo nível de ansiedade quando as coisas estão fora da zona de conforto, quando estamos tentando fazer uma coisa que nunca fizemos antes e, até certo ponto, a ansiedade ajuda. Imagina se você fizer uma prova e estiver quase dormindo? Você não foca. Precisamos de um certo nível de ansiedade e apreensão nesse momento. Então, não podemos simplesmente acabar com a ansiedade, como muitos pacientes me pedem. A ansiedade é o que me fez vencer na vida. A questão é o você faz com a ansiedade quando ela passa desse nível necessário para a vida.”.

“A maioria das pessoas utiliza uma estratégia chamada evitação psicológica para evitar a ansiedade. Isso nada mais é do que uma reação que traz alívio emocional imediato à ansiedade, mas que provoca consequências negativas no longo prazo. Por exemplo, você recebe uma ligação que você sabe que a pessoa vai falar uma coisa que você não quer escutar. Seu o coração começa a bater acelerado e você tem opção de atender e lidar com o conflito ou empacar com a evitação psicológica. Nesse caso, você pode simplesmente não atender ou até mesmo desligar o telefone e evitar essa pessoa muito tempo. O problema é que quando você evita, você está ensinando seu cérebro que você não consegue aguentar a ansiedade. Momentaneamente, a evitação psicológica ajuda a acalmar o cérebro. Mas no longo prazo, te deixa empacado porque isso só aumenta a ansiedade e rouba aa chance de você ter uma vida produtiva porque você não está vivendo com ousadia. Está vivendo com medo. Você fica prisioneiro do medo e da ansiedade.”, completa Marques.

Ela também aborda a importância da regulação emocional, que consiste em equilibrar a parte racional e emocional do cérebro. “Primeiro, precisamos reconhecer que estamos desregulados e entender quais são os nossos gatilhos. Eu vejo da seguinte forma, como se toda as pessoas tivessem botões no corpo, de diferentes cores, vermelho, azul, laranja, verde e amarelo. Se alguém aperta meu botão azul, por exemplo, eu estou tranquila e não vou reagir. O botão seria pressionado com algo prazeroso para mim, como sair com os amigos, ler um livro ou ver televisão. Mas se alguém aperta o botão vermelho, que para mim, está ligado com a ideia de não ser suficiente, isso vai gerar uma emoção muito intensa e uma reação. Então a primeira coisa é entender que dependendo da intensidade da sua emoção naquela situação, você vai reagir. Para evitar que isso aconteça, é preciso de treino. Você tem que começar a pensar quais são as situações que geram essas emoções intensas e o que você faz, como você reage, diante dessa situação, para notar se você está evitando ou não. Com treino, é possível pausar antes de reagir e mudar a estratégia mesmo que alguém aperte um botão vermelho.”, axplica.

A psicóloga detalhou as habilidades necessárias para lidar com a ansiedade: Para conseguir usar essas habilidades, o primeiro passo é entender seus gatilhos, suas emoções e reações a elas e conseguir “pausar o cérebro” em momentos de emoções intensas. Parece pouco, mas o simples ato de fazer essa pausa antes de reagir é suficiente para ativar o córtex pré-frontal, que é a parte racional do cérebro e que permite usar as habilidades, que são: modificar, abordar e alinhar. Basicamente, modificar está focado nos nossos pensamentos. A forma mais simples de “modificar” é isolar o que você está dizendo para si mesmo e perguntar “se meu melhor amigo estivesse nessa situação, o que eu falaria para ele?”. Isso funciona porque ajuda a ativar o córtex pré-frontal. “Abordar” é a habilidade que eu uso mais na vida que é, em vez de evitar, dar um passo na direção daquilo que está gerando medo ou ansiedade. Por exemplo, eu tinha medo de altura. Em vez de evitar a altura, eu fui foi buscando superar esse medo, aos poucos, até conseguir pular de paraquedas. Eu tinha medo de dar palestra. Devagar, eu comecei a fazer isso e hoje dou palestras para mil pessoas, sem problema nenhum. Então abordar é o oposto da evitação psicológica. É dar passos para vencer a ansiedade e viver com ousadia. Por fim, “alinhar” diz respeito a viver uma vida com propósito, alinhada com seus valores. A maioria das pessoas vive uma vida direcionada pelas emoções. Se eu estou ansioso, eu evito. Se eu estou com raiva, eu grito. Reagimos alinhado com nossas emoções. O contrário disso, cientificamente, é viver alinhado com os nossos valores, que são as âncoras da vida. Isso ajuda a ter menos ansiedade, menos depressão e mais qualidade de vida. Eu sempre falo para os meus pacientes: ‘se você vai sentir ansiedade de uma forma ou de outra, é melhor sentir essa ansiedade por uma coisa que faça sentido, que faça sua vida mais rica, do que sentir ansiedade por uma coisa que não ajuda nada’.

“A minha avó sempre falava que em momentos de mudança na vida, a maioria das pessoas viram uma pedra. Então elas se endurecem e ficam presas ao que consideram verdade ou ao que é cômodo, porque isso lhes dá segurança. Essa postura, embora estável, te deixa empacada. A pessoa sabe que aquilo não está funcionando mais, que a vida não é mais o que ela quer, mas o medo não a deixa sair. A outra opção, é você ser água. Ou seja, a vida vai estar cheia de obstáculos, mas quando vem esse obstáculo, você dá a volta, passa por cima, enfim, acha uma forma de contornar a situação e continuar.“, finaliza.

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Destaques Psicologias do Brasil, com informações do Globo
Foto destacada: Reprodução.






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