A constante súplica por admiração nas redes sociais

A tecnologia nos possibilita novas formas de comunicação por meio de um mundo virtual, no qual muitos procuram um espaço de reconhecimento, semelhante ao que acontece no mundo real. Através de selfies, curtidas, compartilhamentos e afins, as redes sociais revelam aspectos pertinentes à busca por validação e satisfação, à defesa contra as frustrações e ao desejo narcísico de sermos vistos e aprovados.

Somos constituídos como indivíduos através do contato com o outro, cujo olhar deposita valor na nossa existência ao nos reconhecer e nos aceitar. Quando publicamos uma foto de um prato delicioso, de um lugar paradisíaco, bem vestidos, em pose sedutora ou de qualquer outro momento que estejamos vivendo, desejamos admiração, que aquilo exista e tenha valor perante os outros, o que também nos revestirá de valor e existência.

Cada novo “post” proporciona popularidade aos solitários através de muitas curtidas, enquanto os comentários recebidos carregam elogios, ainda que superficiais, que suprem a carência, gerando uma falsa satisfação. As publicações se multiplicam no intuito de conseguir mais doses desse atraente prazer instantâneo, levando ao vício cibernético e empobrecendo a vida real. Não é à toa que não existe a opção “não curti” que provocaria um efeito contrário ao esperado, desmotivando o uso das redes sociais.

Para existir é preciso ser visto — mesmo que seja por centenas de desconhecidos. Nesse contexto, não basta estar feliz, é preciso mostrar-se feliz. Muitos aparecem felizes para se sentirem integrantes do mundo ilusório de felicidade fácil, onde tudo pode ser editado. Os momentos são mecânicos, sem autenticidade ou espontaneidade, com a preocupação em mostrar a imagem ideal de si mesmo, que geralmente sustenta alguém bem sucedido, de boa índole, muito amado e, claro, feliz.

O sociólogo Zygmunt Bauman considera o Facebook uma rede social inversa à comunidade tradicional à qual pertencemos. O Facebook nos pertence. Temos domínio das ações e membros da nossa rede, nos conectamos e desconectamos conforme for conveniente. Com um simples comando de bloquear ou excluir, afastamos o que nos causa incômodo, sem explicações embaraçosas ou o desconforto de romper uma relação olhando nos olhos do outro. Em contrapartida, o mundo real exige que toleremos pessoas, situações e emoções. Quando deixamos de viver o real, é preciso repensar o uso das redes sociais.

Somente revelando quem somos de verdade, sem filtros ou edições que distorcem a realidade e longe do culto às aparências, poderemos estabelecer conexões sinceras e reais com outras pessoas reais que não nos excluirão em um simples clique. Degustar aquele prato delicioso antes que esfrie — sem esperar o melhor ângulo para compartilhá-lo virtualmente —, gargalhar sem se preocupar em parecer atraente na foto, relaxar nas águas cristalinas daquela praia exuberante e curtir a presença real dos amigos naquela festa divertida são formas mais eficazes de sentirmos satisfação real, onde o prazer, mesmo que momentâneo, fica registrado em nós.






Psicóloga clínica com enorme interesse nos processos e mecanismos envolvidos nas interações e comportamentos humanos. Com orientação psicanalítica, mantém uma abordagem integral do ser humano e sua subjetividade. Graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pós-graduanda em Dinâmicas das Relações Conjugais e Familiares pela Faculdade Meridional (IMED). .