Aprender a perder: uma necessidade da vida atual

É isso mesmo, você não leu errado: aprender a perder é uma necessidade da nossa vida adulta. É o melhor a fazer por nós mesmas, que pela Escola da Vida. Talvez a nossa primeira perda na vida seja aquela pirraça que não deu certo. E certamente fechou a porta para as próximas.

Eu tinha uns 4 anos quando meu pai me ensinou a perder. Me lembro de poucas coisas da minha infância. Mas essa página merecia um troféu. O Nobel da Criação de Filhos.

Meu pai me chamou pra comprar meias pra ele. E depois íamos comer coxinha – eu amava e continuo amando. Me lembro que vi na loja um pianinho colorido. Era tão lindinho. Pequeno demais, só que muito bonitinho.

Pedi meu pai. Ele disse “filha, ele é pequeno pra você. E hoje viemos comprar meias.”. Ah tah. Capaz?! Pois comecei a chorar entoando as famosas frases “eu quero, ei quero”, “por favor, pai”, “é bonito, quero pra mim”, etc.

Sentei no chão pra tocar o pianinho. Meu pai escolhendo as meias só me olhava. Falou umas duas vezes, “levante daí. Não vamos levar esse brinquedo!”. E eu rolava no chão.

Chorava, berrava. Eu tinha uma meta: levar o pianinho fofo pra casa. Papai também tinha: me mostrar que aquilo não era forma de se conseguir algo. O vi com pacotes de meias nas mãos. Vi quando pagou pela compra. Aumentei o nível do chororô, claro, estava perdendo. Só que não deu certo.

Vi quando foi embora. Meu pai foi embora – socorro! É, ele saiu da loja. E eu fiquei ali no chão. Mas rapidinho tomei tenência. Me levantei, sentei na porta da loja, com o cotovelo no joelho.

Pensando “ele foi embora. E me deixou aqui”. Daqui a pouco parou um carro em frente à loja. Era meu pai! Perguntou: “acabou o show mocinha?!” e eu só balancei a cabeça em sinal afirmativo.

Entrei pela porta de trás, enquanto ele a segurava. E ouvi: “nós vamos comer coxinha. Mas você fica no carro, pensando no que fez e em casa conversamos”.

Sinceramente não me lembro da conversa. Lembro que ele parou na lanchonete de sempre. Trouxe a coxinha – ô coisinha de Deus! – e peguei já com vergonha do que tinha feito.

Essa história foi contada em vários encontros de família e natais. O povo amava ouvir isso na casa dos meus avós. E eu dava risada na adolescência por isso.

Papai dá detalhes até que as vendedoras da loja queriam me pegar no colo. Queriam dar água. Mas ele disse a todas “nem se aproximem, por favor, é a primeira birra fora de casa e ela não fará isso mais”.

Segundo meu pai, nunca mais dei birra. Ali, ele me ensinou a perder. Precisamos aprender a perder e logo. A jornada da vida exige isso de nós. Claro que se eu tivesse recebido um manual da vida adulta com o aviso: ‘nunca se esqueça do show na loja por causa do pianinho!’, teria sido menos doloroso.

Continuo comendo coxinhas e pensando na situação. Estou com 32 anos. Aproveito pra lembrar do nosso ego. Ele que nos faz ir em frente quando percebemos que vamos perder.
Sabe aquele boy que te ignora? Ele é o pianinho colorido fofinho da sua vida.

O ego sempre diz: “continua, você vai conseguir”. E a razão vai alertar: “ele não te quer, tire o time de campo”. Aí vem a carência, acompanhada do que você idealizou no cara e pronto. Ferrou tudo!

A razão fica na gaveta. O amor próprio tenta te parar, mas o ego fala mais alto.

Precisamos aprender a perder seja na vida amorosa, profissional, familiar, pessoal. E esse boy que você tanto insiste e é ignorada com louvor – porque não basta ser ignorada, é com louvor – por ele, é apenas o resultado da mistura:

– Idealização (ele não é isso tudo que você diz a si mesma que é);
– Carência (você se sente sozinha e corre pra enviar mensagem pra ele mesmo depois de tudo);
– Ego berrando “segue!” (ele quer sempre vencer).

Aí vem o ciclo do desinteresse: você promete a si mesma que nunca mais vai falar com ele. Aguenta uns meses. Se sente sozinha. Lembra do quanto ele “foi fofo” com você (eram só migalhas, menina! Não se engane!) e envia de novo, mensagens.

Resultado: ele é seco. Apenas responde o que você envia. Depois te ignora.

Aí você se lembra da música nova que passa na rádio ou alguém enviado do diabo põe no carro com som alto pra tocar perto de onde você está “todo mundo tem aquela pessoa! Aquela pessoa que entra e sai da sua vida quando quer…”.

Linda a música e o som. Mas a letra te remete a se rastejar a quem nunca te quis. Você pensa “eu sou essa pessoa que entro e saio da vida dele, por ele permitir”. Não, moça. Ele não está nem aí pro que você faz.

Desculpe a sinceridade. Sei que é difícil ler isso, mas você precisa de um choque de realidade. Se ele quisesse algo com você ainda que colorido ou a sério, ele deixaria isso bem claro.

Você chora. Some da vida dele. Se sente mal. Daqui a pouco vem tudo de novo. Você volta pra primeira atitude do ciclo do desinteresse. E cava mais uma decepção com ele.

E esse ciclo do desinteresse e é como um rolo compressor na autoestima. E o infeliz do boy, é tão traste que não sabe dizer “não” pra você. Isso piora tudo. Mas te ignora. Responde quando quer. Nunca manda mensagem.

Interesse, não se planta. Ele surge naturalmente entre duas pessoas.

A porta de saída dessa situação é se estudar. Buscar em tudo o que você sente por ele e descobrir o que te faz voltar. O quê de fato, você idealizou nele pra o querer tanto?

Após descobrir isso, saiba perder. Você o quis, tentou, não deu certo. Até perceber que ele só te trata razoavelmente bem quando está sozinho, você percebeu. Sempre que ele te ignora, é por estar com alguém.

Você dá um tempo e tenta de novo. Embalada pelo ego que insiste “ele vai querer, mudar de ideia”. Não moça, ele não vai querer, não vai mudar de ideia. Você precisa aprender a deixar de lado pois essa, você perdeu.

Essa é uma guerra perdida. E algumas batalhas, são mais belas se perdidas mesmo. Derrotas fazem parte da nossa caminhada e devemos aprender com cada uma delas. Quando queremos muito um cara e ele não demostra reciprocidade, temos que tirar o time de campo.

Agora, no fim do ano, é uma época perfeita pra isso. Amo essa passagem de ano pra descartar muitas coisas. Objetos, roupas, sentimentos, atitudes. Faça isso também.

Aproveite a virada de ano, pra se livrar do que sente por esse traste. Guarde com você duas frases quando pensar em falar com ele:

1.: Ele nunca te quis.
2.: Essa você perdeu.

Tenho certeza que essas frases te farão não correr atrás dele de novo. Trabalhe isso em você: aprender que nem tudo dá certo mesmo. Ainda mais quando o assunto é relacionamento. Vire o ano com esse sentimento de se amar, se valorizar. Tire-o dos seus pensamentos, das suas ilusões, da sua lembrança.

Controle os pensamentos. Tente aprender a perder a cada vez que pensar em falar com ele de novo, querer tentar mais uma vez. Dispense energia em outras situações. Amor próprio é lindo! Vista-se com ele nesse fim de ano!

Fica bem!

Imagem de capa: Shutterstock/mavo






É graduanda em Psicologia, tem 33 anos. Como o que faz o mundo dela girar, são as pessoas, trabalha com Recursos Humanos. É mineira, bem casada com um Gaúcho lindo. Mora em Porto Alegre desde 2012. Está sempre lendo e ama escrever. Se sente rica, por ter vários livros em uma estante que é o seu tesouro. Ama se engajar em causas sociais, crê que a única coisa que levamos desse mundo, é o que plantamos e que as boas obras, são fundamentais.