Três irmãos, um de 10 anos e dois gêmeos de 8, foram resgatados em Oviedo, no norte da Espanha, após viverem mais de três anos em confinamento extremo, sem qualquer contato com o mundo exterior. Segundo a Polícia Nacional da Espanha, as crianças estavam presas dentro de casa desde outubro de 2021, quando seus pais decidiram que o risco de infecção pela Covid-19 justificava o isolamento total da família.
O caso chocou o país e ganhou repercussão internacional ao ser descrito como a “casa dos horrores” pela imprensa local. As crianças eram obrigadas a usar fraldas, dormir em berços semelhantes a gaiolas e usar até três máscaras sobrepostas. Elas desenhavam figuras perturbadoras no quarto em que viviam isoladas.
A operação de resgate foi revelada nesta semana após uma denúncia anônima que levou a polícia até o local. Segundo relatos de autoridades, assim que saíram de casa, os meninos demonstraram estranhamento e medo do ambiente externo. Um deles chegou a se ajoelhar na grama, em choque, como se estivesse vendo algo pela primeira vez.
Condições insalubres e abandono
O imóvel estava em estado crítico. Havia fezes de animais espalhadas pelos cômodos, lixo acumulado, fraldas sujas e remédios vencidos. Um gato com um tumor enorme vivia no banheiro ao lado do quarto dos gêmeos. As janelas e portas estavam trancadas com reforços, e apenas o pai podia abrir a entrada principal, exclusivamente para receber pedidos de supermercado.
Os pais, identificados como Christian Steffen, de 53 anos, um filósofo alemão, e Melissa Ann Steffen, de 48, de nacionalidade germano-americana, disseram estar protegendo os filhos de um “mundo perigoso”. Christian possui doutorado em filosofia pela Universidade de Hamburgo e é autor de um livro sobre Heidegger, publicado em 2005. Melissa, com dificuldade de locomoção e pesando cerca de 140 kg, também apoiava o confinamento rigoroso.
“Síndrome da Covid” e delírios
De acordo com investigadores, o casal apresenta sinais da chamada “síndrome da Covid” — um estado psicológico de pânico e paranoia extrema relacionado à pandemia. Eles afirmavam que os filhos tinham graves problemas de saúde e deveriam ser mantidos afastados de qualquer contato humano.
Durante o resgate, os pais não demonstraram arrependimento e insistiam que estavam fazendo o melhor para proteger a família. “Eles estavam alheios à realidade. As crianças tinham medo até de respirar sem máscara”, disse uma fonte policial ao jornal La Nueva España.
As autoridades espanholas seguem investigando o caso. O Ministério Público deve avaliar se o casal responderá por crimes como maus-tratos infantis, negligência e sequestro. Os três irmãos agora estão sob os cuidados dos serviços sociais e passam por acompanhamento médico e psicológico.
