Enquanto não aprendemos a desatar os nós que ficaram lá atrás, iremos repeti-los, incontáveis vezes, até que aprendamos a lidar com esses nós

Algumas pessoas entram em nossas vidas e acessam memórias muito dolorosas, marcantes ou sensíveis dentro da gente. Outras pessoas entram em nossas vidas e nem tocam nessas memórias. Geralmente, são os que mexem nessas memórias e nos desestabilizam que a gente vai amar mais. E, com sorte, aprender mais.

Dizem que enquanto não aprendemos a desatar os nós que ficaram lá atrás, iremos repeti-los, incontáveis vezes, até que aprendamos a lidar com esses nós.

As situações irão se repetir, em forma de encontros semelhantes, ou de pessoas que nos desafiarão de forma similar, ou de instabilidades parecidas que tumultuarão nosso bem estar… até que a gente aprenda. Coincidências ou “dedo podre” não existem. O que existe é a repetição da provação até que se torne lição.

Um dos meus livros preferidos de toda a vida é premiado “O Sentido de um Fim”, do escritor inglês  Julian Barnes. Dentre as inúmeras passagens que me atraem, gosto especialmente de uma que fala sobre o envelhecimento, e sobre como as pessoas mudam com a passagem do tempo. Porém, embora ocorram variações nos cabelos, nas roupas, e nas sardas (que “agora parecem mais manchas de fígado”), os olhos permanecem iguais: “Mas ainda é para os olhos que nós olhamos, não é? Era lá que achávamos a outra pessoa, e ainda achamos. Os mesmos olhos que estavam na mesma cabeça quando nos conhecemos, dormimos juntos, nos casamos, fomos para a lua de mel, fizemos uma hipoteca, fizemos compras, cozinhamos e passamos férias, amamos um ao outro e tivemos uma filha juntos. E eram os mesmos olhos quando nos separamos.”

É para os olhos que nós olhamos. É lá que encontramos partes de nós mesmos no outro, ou o mistério que precisamos desvendar, ou as memórias que precisamos acessar, ou as lições que precisamos reviver para nos curar. É nos olhos do outro que está aquele enigma que leva- nos a apaixonar, ou o abismo que nos faz despencar.

O que te atrai nem sempre é beleza, status, educação, gentileza, vestimenta ou posição social. O que te atrai é esse emaranhado de questões que você quer desvendar. É essa turbulência que o outro lhe provoca, ou esse enigma que nenhuma palavra é capaz de comunicar. O que te atrai está no mistério, na energia, no olhar. Nada te prepara para isso, nada te salva.

Fazer o caminho de volta é ser capaz de olhar para a própria história de outra forma, mais amadurecida e consciente, e conseguir transformar os antigos nós em novos laços. Enquanto não aprendermos a reagir de forma mais amorosa conosco mesmos, iremos continuar repetindo padrões e culpando a vida pela repetição.

Vida é prova. E as questões são específicas para seu aprimoramento. Suas dores e decepções, reveses, desvios e sustos fazem parte do pacote. Errar faz parte; deixar em branco anula quem você pode vir a ser…

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Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.