Todo mundo já ouviu aquela conversa: tem gente “100% extrovertida”, que parece viver em roda de amigos, e gente “super introvertida”, que prefere ficar no canto dela.
Só que, nos últimos meses, um termo novo começou a circular em entrevistas, reportagens e redes sociais: “otrovertido”.
A proposta é falar de pessoas que não se encaixam nesse esquema clássico e vivem meio de lado em relação aos grupos, mantendo uma independência bem marcada.
Quem colocou essa palavra no mapa foi o psiquiatra nova-iorquino Rami Kaminsky, que descreveu os otroverts como pessoas que não se reconhecem nem como introvertidas nem como extrovertidas e que têm uma resistência natural a seguir o “fluxo do grupo”.
Segundo ele, a orientação básica desse tipo de personalidade costuma ir em sentido diferente da maioria: enquanto muitos buscam pertencer a um grupo e seguir certas regras sociais, o otrovertido tende a preservar uma distância interna.
Não é alguém frio ou incapaz de criar laços; é alguém que se sente estranho dentro dos círculos sociais tradicionais e que não vê tanta graça em se moldar para se encaixar.

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De onde vem esse papo de “novo tipo” de personalidade?
Na psicologia “clássica”, a ideia de introvertido e extrovertido ganhou força com os trabalhos de Carl Jung e depois foi incorporada em modelos modernos, como o famoso traço de extroversão nos testes de personalidade.
A maior parte dos especialistas vê esse traço como um continuum, em que cada pessoa se posiciona em alguma parte entre os dois polos.
Com o tempo, surgiram rótulos intermediários, como ambivertido, para quem tem traços dos dois lados e varia conforme o contexto.
Alguns termos, como onivertido, já foram apontados por pesquisadores como linguagem de cultura pop: ajudam a se descrever, mas não fazem parte de classificações científicas consolidadas.
O termo “otrovertido” segue essa linha: é uma construção nova, mais próxima da psicologia pop do que de manuais oficiais, mas que captura uma sensação real de muita gente — a de viver constantemente “por fora”, mesmo sendo uma pessoa empática e capaz de se conectar individualmente com outras.
Como é, na prática, um “otrovertido”?
Pelos relatos reunidos em entrevistas com Kaminsky e em matérias recentes, alguns traços aparecem com frequência:
- Sensação de estar deslocado em grupos, mesmo quando as pessoas são gentis.
- Facilidade para ficar sozinho, sem sentir que isso é um drama ou um fracasso social.
- Dificuldade em entender como um grupo inteiro pensa igual, vota igual, reage igual a uma situação.
- Aversão a seguir a opinião da maioria só para “pertencer”.
- Preferência por tomar decisões sozinho, quase sem pedir conselho.
- Desconforto com trabalhos em equipe, principalmente quando há muita hierarquia ou pressão de grupo.
- Sensibilidade com o que o outro sente, mas sem vontade de se misturar em panelinhas.
Na visão de Kaminsky, otrovertidos costumam ser educados, afetuosos e capazes de relações amorosas profundas, mas mantêm uma espécie de fronteira interna que impede que eles “se dissolvam” em grupos.
E isso não é visto como doença. Ele faz questão de diferenciar essa ideia de quadros clínicos, como o espectro autista ou transtornos de personalidade: seria um jeito válido de estar no mundo, não um diagnóstico.

O meio-termo entre conexão e energia preservada
Se a gente junta esse conceito com os textos que vêm viralizando em português, o perfil fica mais fácil de visualizar: aquela pessoa que não vive nos extremos, que até gosta de gente, mas escolhe com muito cuidado onde vai gastar presença e energia.
É alguém que:
- curte o próprio silêncio,
- sente prazer em conversas boas com pouca gente,
- não foge da vida social, mas também não vive atrás de agito,
- prioriza conexões em que consegue ser quem é, sem máscara social o tempo todo.
Nesse sentido, o “otrovertido” se parece com a descrição de quem aprendeu a socializar com filtro: não é isolamento, é critério. Não é falta de vontade de sair, é vontade de sair só onde faz sentido emocionalmente.
Outrovertido não é sinônimo de introvertido “problemático”
Vale separar as coisas. Pessoas introvertidas, em geral, preferem ambientes mais calmos, interações profundas e precisam de mais tempo sozinhas para recarregar as “baterias sociais”.
Isso não é patologia. O problema surge quando o isolamento vira regra, trazendo sofrimento, solidão e impacto no dia a dia.
O que o conceito de otrovertido tenta destacar é outra camada: não é só sobre se cansar com muita interação, e sim sobre não sentir que pertence a lugar nenhum, mesmo quando convive bem com as pessoas individualmente.
É menos “não gosto de socializar” e mais “não consigo me ver como parte orgânica de um grupo estável”.

Onde esse tipo de personalidade pode brilhar
Alguns textos citam figuras como Frida Kahlo, Franz Kafka e Albert Einstein como possíveis exemplos de otrovertidos: pessoas criativas, sensíveis, com capacidade de afeto, mas que mantinham forte independência em relação a grupos, correntes e modas sociais.
A lógica é que essa postura “de fora” pode ter um lado potente:
- facilita ter olhar crítico sobre comportamentos de massa;
- favorece ideias originais, já que a pessoa não está tão preocupada em agradar o grupo;
- ajuda a preservar valores pessoais, mesmo sob pressão social.
E isso tudo é ciência dura ou um conceito em construção?
Por enquanto, “otrovertido” é muito mais um rótulo novo para uma sensação antiga do que uma categoria oficial validada em grandes estudos.
A própria discussão que surgiu com termos como ambivertido e onivertido já mostrou que a ciência tende a trabalhar com traços de personalidade contínuos, não com caixas totalmente novas a cada década.

Ainda assim, essas palavras podem ter utilidade no dia a dia: ajudam a gente a nomear experiências subjetivas e a sair daquela falsa escolha entre “introvertido demais” e “extrovertido demais”.
Para quem sempre se sentiu “estranho” em grupos, mas continua sendo uma pessoa afetiva, ter um termo como otrovertido por perto pode funcionar como ponto de partida para pensar a própria história com um pouco mais de gentileza.
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Fonte: Britannica
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