A hora da mudança…

Você já deve ter encontrado alguém cético no que diz respeito a mudanças pessoais, outro dia minha conhecida disse “quem acredita em mudanças é só dono de transportadora”. Ouvi triste o comentário e pensei na dificuldade desta pessoa quando os ventos que sopram em sua direção forem adversos. Os graus de rigidez de suas crenças centrais serão cruciais para determinarem se haverá ou não oportunidade para agregar mudanças quando estas se tornarem necessárias.

E acredite, não é possível passar pela vida sem que se mude em algum momento, que não raras vezes se mostra íngreme. Mas, voltando ao tema, mudanças, há um item indispensável para reunir informações e apontar prognósticos: o ambiente que o indivíduo está inserido e sua capacidade de flexibilização. Nesse contexto, as relações e implicações dos desafios, probl e suas complexidades.

Diante das adversidades, é no ambiente em que o indivíduo está inserido que extraímos informações importantes para nos debruçarmos, dados desta realidade fornecerá auxílio na organização das decisões a serem tomadas. Mas, ainda, há outro ambiente, o interno. A forma como suas crenças centrais foram formadas, sua compreensão de mundo, de si, do outro. Também representam os agentes facilitadores ou dificultadores para o exame dos eventos que se tornam tensos e adversos e que impactam diretamente na tomada de decisões.

Cada um de nós possuí uma visão singular de mundo, interpretar e reagir frente as situações. Estudos mostram que possuímos uma atenção seletiva, ou seja, sem perceber, organizamos informações, somente aquilo que focamos e damos conta de compreender. Isso significa que observamos o mundo através de nossas crenças, de como nos vemos, vemos os outros e compreendemos o mundo.
Se uma pessoa é muito negativa, obviamente terá uma visão negativa e reunirá só informações negativas, afim de confirmar suas crenças de que tudo é ruim, difícil, negativo.

 

Um exemplo seria a pessoa acordar e ver que chove. Ela pode ver isso como algo muito ruim ou simplesmente acreditar que a chuva é uma excelente forma de despoluir o ambiente, trazer vida. Quando seus pensamentos estão distorcidos, ela parece estar usando uma espécie de lentes que distorcem e pioram a realidade. Assim como os pensamentos que interpretam os acontecimentos. Interpretação esta normalmente negativa, catastrófica que não ajuda à uma reação produtiva. Assim são pessoas que dizem “ nunca acontece nada de bom comigo”, “ minha vida nunca muda”, “ Nada de bom me acontece”.

Podemos também ter pensamentos disfuncionais e distorcidos quanto a nós mesmos. Uma pessoa que acredita ser incapaz ou inadequada. Normalmente envolve autoestima baixa, isto em razão da crença central de que seu valor é pequeno, que ela é indigna de receber amor.

Apurar o olhar para examinar com clareza suas possibilidades de reações positivas diante de situações estressantes, passa por um exame de suas concepções internas, suas crenças. Os pensamentos distorcidos, ou distorções cognitivas, serão os desafios a serem vencidos, por isso que nós psicoterapeutas cognitivos somos unanimes em pedir aos pacientes/clientes, que estudem as distorções cognitivas no início do tratamento.

Com o raciocínio mais limpo e menos contaminado é possível adequar este olhar, portanto, encontrar um meio para analisar o ambiente interno e externo com sensatez, muitas vezes a dificuldade em reações de sucessos estão na falta desta.

Pensamentos de tudo ou nada são muito comuns e extremamente perigosos. A realidade tem nos mostrado que saber agir ou ter prudência é o caminho mais seguro. Comportamentos irrefletidos são prejudiciais e por vezes irreversíveis. Atrapalham nos momentos em que temos que estruturar estratégias diante de situações de estresse.

A bem da verdade, podemos ajudar nossos pacientes a perceberem seus métodos de enfrentar as dificuldades e assim enfraquecerem suas respostas comportamentais indesejadas. Pois a forma de ver a vida e relacionar-se com ela retrata a forma como a pessoa se vê. E sua resposta emocional será de acordo, se ela vê o mundo um lugar perigoso, provavelmente tenha a crença central de vulnerabilidade.

Não temos um método mágico de curar este esquema, mas de mostrar que ele existe e pode ser o tendão de Aquiles em situações problemas. Enfraquece-lo de tal forma que passará a não ser percebido nem por si nem por outros.

Portanto, os grandes vilões perpetuadores dos esquemas são: inicialmente distorções cognitivas (perceber situações equivocadamente de forma exagerada, distorcida, seja negando a informação que o contradiz), ou a utilização de padrões autoderrotistas (inconscientemente, escolher situações e relacionamentos mantenedores dos esquemas e evitação daqueles que podem contradizer) , bem como os estilos de enfrentamento dos esquemas, as hipercompensações dos esquemas, mantenedores dos velhos problemas e o jeitão prejudicial de funcionamento individual.

Diante de situações de ameaça à nossa integridade física existem basicamente três tipos de respostas ativadas pela amigdala cerebral : instinto de proteção e preservação primitivos: a luta, a fuga e o congelamento (freezing) os quais, na Terapia do Esquema mental proposta por Young, correspondem, respectivamente, aos estilos de enfrentamento (cooping styles) hipercompensação, evitação e resignação. Para esta teoria a ameaça é compreendida como uma falha na estruturação emocional da criança, por não terem sido atendidas suas necessidades emocionais básicas, além disso, para esta teoria, ela pode incluir o medo das emoções geradas pela ativação de um determinado esquema.

Frente às ameaças, a criança responde com um destes estilos, adaptativos ao meio, à medida que a criança cresce o estilo de enfrentamento que é sempre o mesmo , perpetua o esquema tornando-o desadaptativo.

Esses estilos e respostas de enfrentamento às situações de ameaça, desenvolvidos desde cedo, na infância, e alimentados ao longo do tempo, tornam os esquemas adaptados ao funcionamento pessoal e ainda, hipercompensados, diminuindo o impacto provocado pela intensidade do sofrimento gerados por estes esquemas.
É importante esclarecer que os esquemas compreendem: memórias, emoções, sensações corporais e cognições e, portanto, o comportamento não faz parte do esquema, mas dos estilos de enfrentamento. Os estilos de enfrentamento são ativados fora da consciência.

Por exemplo: No caso de resignação a um esquema, o paciente considera que não tem como evitar aquela determinada situação em sua vida, aceitando determinado fardo, mesmo que ela pudesse esboçar uma reação. Ou não permitir determinado abuso. Pensa que não saída, toma a situação como inevitável, verdadeira, e não esboça reação para lutar nem a evita. Este processo de aceitação ou resignação, ocorre fora da consciência. O paciente repete o modo de enfrentamento utilizado na infância, perpetuado no tempo, sem que ele se dê conta.

O estilo de enfrentamento da evitação, o propósito é a fuga da dor gerada pela ativação do esquema. O uso de álcool de forma abusiva, ou de outras substâncias psicoativas , é a forma como os pacientes evitam o esquema, uma forma de emitir comportamentos a fim de distrair-se, como manter comportamentos aditivos.

Na hipercompensação os pacientes enfrentam o esquema , pensando, sentindo, inclusive agindo como se o oposto do esquema fosse verdade, ex. O narcisista usa a forma de superioridade para esconder a criança solitária. Suas reações tendem a ser o oposto do que foi quando da infância. E assim por diante. A característica dos hipercompensadores é contra-atacar, utilizando-se de comportamentos exagerados, insensíveis e inadequados.

Existem vários domínios esquemáticos, mas só a exemplo: Desconexão- Rejeição: pacientes com esquemas nesse domínio tem dificuldade em formar vínculos de afeto, são pouco amigáveis, pela incapacidade na formação de vínculos seguros e de maneira satisfatória com outras pessoas. Em geral, sofreram com experiências traumáticas na infância, tiveram famílias cuja característica era de instabilidade, abuso, frieza, rejeição ou isolamento do mundo exterior. Formado pelos seguintes esquemas: abandono/instabilidade, desconfiança/abuso; privação emocional; defectividade/vergonha e isolamento social/alienação.

O impacto das psicoterapias, neste caso, terapias do esquema mental, se torna fundamental para o indivíduo conhecer-se e esboçar forma funcional de reagir saudavelmente. É inegável, diante de todas as comprovações empíricas realizadas pelos estudos no Brasil e no mundo. A ampliação da TCC tradicional tornou-se uma necessidade, visto que sua eficácia diante de alguns transtornos mostrou-se limitada. Por isso, a Terapia do Esquema ou Terapia Focada em Esquemas mostrou-se tão necessária.

A principal característica da Terapia focada em esquemas mentais é a ênfase na relação terapeuta-paciente, ajudando o paciente a perceber-se e aceitar suas dificuldades de forma a identificar quando um esquema mental foi ativado e como lidar com ele, só desta forma poderá promover em si as mudanças necessárias.

Imagem de capa: Shutterstock, Romolo Tavani