Mulheres e depressão: por que elas têm mais?

Agora vamos falar de um tema muito preocupante, que causa muito sofrimento à pessoa acometida e às pessoas que convivem com ela: depressão. Os dados são alarmantes!

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge 5% da população mundial, o que equivale a aproximadamente 350 milhões de pessoas. Ainda segundo a OMS, para cada homem com depressão, duas mulheres sofrem com a doença.

É interessante notar que a diferença na prevalência de depressão começa a aparecer a partir dos quinze anos de idade. Mas por que as mulheres têm o dobro de chances de vir a desenvolver depressão que os homens?

Antes de qualquer coisa, é importante ressaltar que alguns estudiosos alegam que, na realidade, a diferença está no fato de as mulheres procurarem, com mais freqüência, ajuda médica ou de outros profissionais de saúde do que os homens, dificultando mais o conhecimento sobre a população masculina. Isso ocorre porque os homens são condicionados, desde crianças, a negar tais sintomas, além de terem maior tendência a fazer uso de bebidas alcoólicas e drogas como estratégias de enfrentamento dos sintomas depressivos, enquanto que as mulheres tendem a interiorizá-los e a expressarem tristeza retraindo-se, esquivando-se das situações sociais e chorando.

Apesar disso, existem alguns fatores que podem contribuir para o aparecimento de um episódio depressivo em mulheres, como:

➤ Período menstrual: Algumas mulheres são sensíveis às oscilações hormonais nesses períodos, tornando-se mais vulneráveis aos transtornos do humor, especialmente à depressão como doença ou aos sintomas depressivos. O ciclo menstrual pode estar diretamente ligado a uma flutuação da sintomatologia depressiva.

➤ Gravidez: Vários estudos referem que os sintomas depressivos são mais frequentes durante e após o período de gravidez do que em outros períodos da vida de uma mulher. Alguns fatores contribuem para isso, como: o grande número de eventos vitais indesejáveis durante esse período, baixo apoio emocional durante a gravidez, solidão, menoridade, ser solteira, baixo nível educacional, baixo nível socioeconômico, antecedentes de aborto induzido e histórias de partos problemáticos anteriores;

➤ Menopausa: neste período o risco de adquirir depressão é considerado cerca de duas vezes maior do que em outros momentos da vida de uma mulher. Além disso, os hormônios podem afetar a reprodução de neurotransmissores que estão relacionados à depressão, desencadeando a doença.

➤ O papel social da mulher: A dupla jornada encarada por muitas mulheres, que precisam conciliar os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos com a atividade profissional é um fator que contribui para o desenvolvimento da doença, pois estas responsabilidades acumuladas podem trazer menos tempo para distração e prazer;

➤ A questão do corpo perfeito (imagem corporal): Mais cobrado nas mulheres e pelas mulheres, pode contribuir também para o aparecimento da sintomatologia depressiva.

➤ Educação: O fato de mulheres receberem uma educação baseada em regras machistas, ou seja, que o homem é mais poderoso e tem maiores direitos, pode favorecer baixo sentimento de auto eficácia associado aos sintomas depressivos;

➤ Violência sexual: Mulheres são mais vulneráveis a serem vítimas de estupros e abusos, tanto na infância, quanto na vida adulta. Esse fator também pode contribuir para o surgimento da doença, pois situações de abuso e violência favorecem a baixa autoestima, a sensação de desamparo, os sentimentos de culpa e o isolamento social que consequentemente desencadeiam a depressão.

Desigualdade social entre os sexos: Salários mais baixos, falta de emprego para as mulheres e pouca atuação política pode favorecer o desenvolvimento de sintomas depressivos nas mulheres.

Apesar desses fatores, é importante destacar que a depressão é uma doença multifatorial, ou seja, várias causas colaboram para o surgimento desse transtorno. Entre essas causas, está a herança genética. Sabe-se que a chance de ter depressão é até três vezes maior em pessoas que possuem parentes em primeiro grau com o mesmo problema ou com outros transtornos psiquiátricos. Porém, é bom frisar que a herança genética é importante, mas não é uma condição única para o aparecimento do quadro.

Além da herança genética, existe também a influência de fatores sociais, que são os episódios de vida que podem influenciar a forma como a pessoa passa a lidar com as adversidades. Como fatores de risco, podemos citar: desemprego, presença de doenças físicas (câncer, diabetes, problemas cardíacos, HIV, entre outros); eventos estressantes ou perdas significativas; traumas; abuso de medicamentos, drogas ou álcool.

A existência de outros transtornos psicológicos e a ocorrência de um episódio depressivo no passado também são fatores que contribuem para o surgimento da depressão.

Outra causa frequente da depressão são os fatores psicológicos que correspondem à maneira com que o individuo pensa e reage às situações que tenham impacto negativo em sua vida. Assim, fatores de risco como o desemprego podem desencadear depressão para uma pessoa, mas para outra não. Pois isso, depende da forma com que a pessoa reage e avalia  esse evento estressor.

Há, ainda, pesquisas que revelam a existência de uma relação direta dos sintomas depressivos com alterações da neurotransmissão cerebral. No nosso cérebro existem milhões de neurônios que se comunicam entre si através de neurotransmissores. As pessoas com depressão  podem ter alterações na quantidade e na transmissão de alguns desses neurotransmissores, bem como no número e sensibilidade dos neuroreceptores.

Assim sendo, não existe uma causa única para a depressão e vai depender de diversos fatores como os citados anteriormente e da forma como cada pessoa reage a eles.

É importante que as mulheres fiquem atentas e procurem o máximo de informações possíveis sobre a depressão, para que busquem ajuda o mais precocemente possível, após a detecção de sintomas sugestivos de depressão. Também é importante que elas tenham cuidado redobrado nos períodos de alterações hormonais, como nos períodos de menstruação, gravidez e menopausa.

Com um tratamento adequado, através da ajuda de uma psicóloga e por vezes, de medicamentos, é possível superar a depressão e ter uma melhor qualidade de vida. Assim, o mais importante é procurar ajuda logo no inicio dos sintomas.






JANAINA MARIUZZI, CRP 07/23879. Psicóloga, Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais. Funcionária pública, estatutária na Prefeitura Municipal da cidade de Sertão/RS, Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania.