O Começo da Vida
Mixed race mother holding newborn baby

“Um dos maiores avanços da neurociência é ter descoberto que os bebês são muito mais do que uma carga genética. O desenvolvimento de todos os seres humanos encontra-se na combinação da genética com a qualidade das relações que desenvolvemos e do ambiente em que estamos inseridos. “O Começo da Vida” convida todo mundo a refletir como parte da sociedade: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade?”

Essa é a sinopse do filme/documentário “O Começo da Vida” que conta sobre os primeiros 1000 dias da vida de uma criança. Mas o filme é muito mais do que isso, ele nos permite entrar em contato com nosso próprio eu criança e o quanto nós, adultos, fazemos descobertas nos primeiros anos de vida da criança, contrariando a ciência e filosofia que diz que somos todos “tábulas rasas” ao nascer.

Sim! É claro que a criança, ao nascer, não possuí muitas experiências, por isso, justificava-se que a mente é uma página em branco (tábula rasa) que a experiência vai preenchendo. De certo modo, pode até funcionar assim para muitas coisas. Entretanto, precisamos considerar que é justamente o fato de a criança não ter experiências anteriores que as tornam tão originais e criativas. Por isso mesmo é que se pararmos para olhar uma criança brincando, se desenvolvendo, podemos aprender muito com elas. Talvez elas tenham mais a nos ensinar do que a aprender.

Acontece que aos poucos, nossos excessos de regras e normas vão tirando essa habilidade de experimentar o mundo sem medo. Não digo que as crianças não devam ter regras e normas, mas o problema reside no fato de não usarmos adequadamente. Quero mesclar conteúdos de outro documentário “Quando sinto que já sei” que fala um pouco da educação das nossas crianças. Neste documentário temos a expressão “limites que não limitam” a educadora diz que, ao mesmo tempo em que a criança ganha sua força de expressão ela aprende a conviver em harmonia e respeito com todo mundo e que um olhar ou um julgamento de um adulto, pode apagar a expressão de 40 crianças em 1 segundo. “Nossas crianças sabem pensar, elas sabem pensar por si, não precisa a forma que alguém ensinou.”

Quando foi que ficamos tão chatos e aprendemos a classificar toda experiência como certa ou errada a partir do que acreditamos ser o certo ou errado para nós? Quando foi que começamos a aceitar as regras do mundo como finais e absolutas? Quando foi que aprender se tornou algo chato e maçante? Quando foi que laranja passou a não combinar com rosa na composição da roupa e a árvore obrigatoriamente tem que ser pintada de verde?  

Certa vez estava brincando de desenho e pintura com minha afilhada que, na época, deveria ter seus 4 anos e, por sorte, sua autoestima de pintora era muito boa, tão boa a ponto de me fazer enxergar a crueldade que eu estava fazendo. Bom, o certo é que eu estava fazendo desenho de paisagem, com rochas, rio, árvores, nuvens, sol, quando ela me pediu para que fizesse um arco-íris para ela pintar. Quando ela iniciou a pintura me assustei ao vê-la pegar o marrom para pintar o arco-íris e intervi dizendo que aquela cor não compunha as cores do arco-íris. Mas ela, mais que rapidamente me respondeu “eu sei, mas esse arco-íris é meu”. Sorri com sua resposta e me envergonhei de ter dito aquilo para ela. Quando ela terminou sua pintura, valorizei sua capacidade de preencher os espaços e respeitar os limites/margens, mas confesso que não conseguia achar o desenho bonito porque esteticamente ele não era o que eu esperava. Quando vi o olhar dela de orgulhosa pelo que tinha feito, consegui me lembrar de que aquele desenho ainda era dela e estava bonito para ela e ponto.

O que acontece é que nós, adultos, depois de muito aprender, acreditamos que já sabemos o que é certo e errado para tudo, inclusive sobre os outros. Esquecemos que a criança é outro ser e pode fazer as descobertas a partir dela e não como uma continuação nossa. Nos esquecemos que mais do que lições sobre a vida e como ela funciona, a criança precisa de amor, cuidados essenciais, segurança e acima de tudo, respeito. Freud já dizia, “como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada”. Uma criança que se sente amada não tem medo do mundo. Não tem medo de ser ela mesma. Não tem medo de expressar seus sentimentos. Uma criança que se sente amada torna-se um adulto capaz de amar.

Mas você sabe o que é dar amor a uma criança? Dar amor é cuidar do outro fazendo o seu melhor, mas respeitando a barreira do eu. Lembrando-se que há um limite entre o que você quer e o que é importante para criança. Prover segurança, mas incentivar a sair da zona de conforto. Impor limites, mas não limitar. E isso não serve somente para os pais, mas para todo cuidador, seja em casa ou na escola.

Enfim, será que estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade? Gostaria de finalizar com uma frase do filme que nos chama muito a atenção: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” – Provérbio africano.






Formada em psicologia tenho uma paixão enorme pela área da saúde, em especial, o trabalho com mães e filhos. Mas confesso que todo trabalho de transformação do ser humano me brilha aos olhos. Até por isso, costumo brincar que não escolhi a psicologia, ela me escolheu. Atualmente trabalho na clínica, mas já estive por 11 anos dentro de empresas na área de RH e Gestão de Pessoas. Escrevo como hobby e forma de expressar meus próprios sentimentos, pois quem sabe minhas ideias não encontre tantas outras ideias perdidas por aí.