O matriarcado das Deusas-Mãe e Humanas

O dia das mães nos permite refletir sobre a importância das sociedades matriarcais. O termo matriarcado apresenta sociedades que eram no ponto de vista econômico, político, social e cultural liderados por mulheres, que também praticavam a igualdade de gênero. É um conceito aplicado às formas “ginecocráticas” de organização, criadas, sobretudo, pelas mães de uma comunidade.

A origem dessa palavra deriva do grego “mater”, que significa “governar” ou “as mães do começo”, expressões que tiveram vários sentidos no decorrer da história. Era o reino do amor e dos laços sanguíneos, em oposição ao reino másculo/apolíneo de ação deliberada. Atualmente a concepção do matriarcado provoca muita discussão teórica.

O maior dos estudiosos sobre tema foi o professor Johann Jakob Bachofen, que defende que a maternidade é a fonte de todos os coletivos humanos. A obra de Bachofen se estudada pelos psicoterapeutas será de grande relevância para entender a afeição e aversão pelas mães. Além disso, o antropólogo Bronislaw Malinowski e o teórico Friedrich Engels realizaram notáveis estudos sobre o matriarcado.

Essas pesquisas nos levam a pensar nas mulheres como mães na perspectiva biológica e como mães numa visão cultural, sucessivamente na categoria de criadoras e cuidadoras – do início e da continuidade – da vida humana. Do mesmo modo, reconhecem nas mulheres sujeitos históricos e simbólicos na construção de sociedades igualitárias.

No paleolítico existiu uma religião baseada no culto à mulher, ao feminino e a vinculação dela ao poder de dar a vida. E no neolítico foi caracterizado pelo começo da história de forma linear e do incremento da agricultura pelas mulheres.

Os mitos femininos eram sagrados na antiguidade, entre os quais: os das deusas-mãe, valquírias, erínias, harpias, deusa da sabedoria, da inteligência, da guerra, da deusa Atena e a amazonas, mulheres gregas, que ficaram célebres por terem sido grandes guerreiras e líderes. O matriarcado ainda se desenvolveu na Europa, na Ásia e na África, desde o ano 35.000 a.C.

O tipo patricêntrico foi dominante na sociedade protestante/burguesa, ao passo que a figura matricêntrica exerceu um papel expressivo na Idade Média, onde a virgem Maria representa, psicologicamente, a grande mãe que acolhe e protege todos os seus filhos com o seu amor, em contradição ao catolicismo patriarcal.

Os elementos criadores do matriarcado continuam, hoje, com sua coragem para sagrar um mundo mais aberto aos valores da amorosidade e generosidade. Assim, a revolução das mulheres deu um severo golpe na autoridade patriarcal dos países ocidentais e orientais.

A partir dessas premissas, a psicanálise constatou a infantilização dos homens, que obrigaram as mulheres a converterem-se não só em “coletoras”, mas em “caçadoras”, ou seja, em líderes, sinalizando – que em pouco tempo – teremos mais mulheres do que homens nas áreas da gestão, política e poder.

As mulheres ocuparam seis dos oito milhões de novos postos de trabalho que foram criados na União Europeia desde o início do século 21. Nos EUA, em cada quatro postos de trabalhos extintos, três eram ocupados por homens. E no Brasil as mulheres conquistam a sua liderança na sociedade, apesar das inúmeras dificuldades do dia a dia. O que explica isso é a capacidade criadora das mulheres e as lutas do movimento feminista em enfrentar o fracassado sistema patriarcal/autoritário.

Imagem de capa: Sebastian Libuda






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista