O perigo da institucionalização na autonomia dos indivíduos

Organizar é padronizar. Padronizar é homogeinizar. Homogeinizar é tornar semelhante ou até igual e, para fazê-lo, características isoladas devem ser suprimidas e até eliminadas porque elas podem se tornar uma anomalia, um desvio que causa um risco não controlado.

A frase acima parece coerente num sistema de produção de peças e produtos que devem se adequar perfeitamente para que sua função seja executada com excelência, para que haja qualidade máxima e segurança como no caso de materiais automotivos que devem executar funções específicas. Mas, e se a padronização acontecer com relação ao comportamento humano? Seria ainda essa premissa verdadeira?

Os estudos realizados ao longo das últimas décadas e que acompanharam pacientes institucionalizados por longos períodos, pessoas que passaram muitos anos de sua vida dentro do sistema prisional ou mesmo a institucionalização decorrente das padronizações exigidas dentro do sistema fabril pós revolução industrial mostram que, a longo prazo, devido a diminuição da autonomia, as pessoas institucionalizadas tornam-se pouco criativas e dependentes. Embora a afirmativa seja generalista, é possível dizer que para sobreviverem dentro de um esquema pré-determinado, as pessoas precisam abrir mão de características pessoais ligadas a criação e mudança, pois cultivá-las nesses ambientes é algo visto como desvio a organização, funcionalidade e produtividade do local.

O ser humano, entretanto, possui dentro de si uma natureza que busca sentido em suas ações e, quando desprovido dessa possibilidade, tende a perder a motivação e o encantamento por suas ações aumentando a probabilidade do absenteísmo no trabalho e de quadros depressivos e ansiosos frente ao descontentamento com a realidade vivida e a impossibilidade de mudança.

Outro complicador é o tempo em que a pessoa passa institucionalizada pois, quanto maior o tempo dentro de um mesmo sistema, mais difícil é para a pessoa a mudança e readaptação posterior em qualquer outro lugar, uma vez que a pessoa, mesmo insatisfeita, pode não conseguir mais se adaptar a novas possibilidades de realidade diferentes das que viveu ao longo de um período significativo de tempo.

O desafio, então, mesmo dentro de locais onde a maioria dos comportamento são padronizados, é a possibilidade de momentos criativos. Aulas de artes, esportes, hobbies e outras atividades que permitam  momentos espontâneos podem ser considerados redutores de danos.

Quanto mais evoluído o local, maior o entendimento da necessidade de autonomia da pessoa, mesmo que inserida dentro de um sistema maior.

 






JOSIE CONTI é psicóloga com enfoque em psicoterapia online, idealizadora, administradora e responsável editorial do site CONTI outra e de suas redes sociais. Sua empresa ainda faz a gestão de sites como A Soma de Todos os Afetos e Psicologias do Brasil. Contato para Atendimento Psicoterápico Online com Josie Conti pelo WhatsApp: (55) 19 9 9950 6332