Em situações de estresse extremo, o ser humano pode reagir de formas aparentemente ilógicas — como rir diante do sofrimento alheio. Esse comportamento, embora desconcertante, tem sido estudado pela psicologia como uma forma de o cérebro lidar com emoções avassaladoras.
Um dos casos mais emblemáticos desse fenômeno foi registrado nos experimentos conduzidos pelo psicólogo Stanley Milgram nos anos 1960. Nos testes, os participantes acreditavam estar aplicando choques elétricos dolorosos em outras pessoas. Enquanto muitos demonstravam angústia, alguns riam nervosamente ao ouvir os gritos de dor — mesmo acreditando serem responsáveis por eles.
Esse tipo de reação é conhecido como riso nervoso, uma expressão emocional incongruente que parece destoar completamente do contexto. Mas por que isso acontece?
Emoções às avessas
Pesquisadores da Universidade de Yale, liderados pela psicóloga Oriana Aragon, têm se dedicado a entender melhor o fenômeno. Segundo os estudos, reações como rir em momentos de tensão ou chorar de alegria funcionam como mecanismos de autorregulação emocional. A ideia é que, ao expressar uma emoção oposta àquela sentida, o cérebro tenta equilibrar a carga emocional intensa e evitar um colapso psicológico ou fisiológico.
Por exemplo, ao receber uma notícia extremamente positiva — como ganhar na loteria — algumas pessoas choram. A tristeza não reflete exatamente o sentimento vivido, mas ajuda a reduzir o impacto da euforia, permitindo que o indivíduo recupere o controle emocional.
Agressão fofa: quando o carinho beira a violência
O mesmo mecanismo se manifesta em situações positivas. Em outro experimento da equipe de Yale, participantes expostos a imagens de bebês com traços mais infantis (olhos grandes, bochechas cheias) relataram sentimentos de afeto intenso, mas também impulsos como querer “beliscar” ou “morder” os bebês — comportamentos apelidados pelos cientistas de agressão fofa.
Apesar do nome, não há hostilidade envolvida. Trata-se de uma forma do cérebro reduzir a intensidade da emoção positiva, modulando o afeto com uma resposta aparentemente agressiva, mas socialmente aceitável.
Quando o riso nervoso atrapalha
Embora funcione como válvula de escape, o riso nervoso pode se tornar problemático quando vira uma resposta automática em situações de ansiedade. Nesses casos, ele compromete a clareza emocional, dificulta a tomada de decisões e pode causar mal-entendidos em interações sociais.
Em episódios frequentes e incontroláveis, o comportamento pode até indicar distúrbios mais profundos, como transtornos de ansiedade. Nesses casos, especialistas recomendam buscar ajuda profissional para entender as causas e aprender estratégias mais eficazes de enfrentamento.
Manter a consciência sobre as próprias emoções e reagir de forma intencional — em vez de automática — é essencial para lidar com momentos desafiadores de maneira saudável e equilibrada. Afinal, mesmo que o riso surja como defesa, é importante saber quando ele ajuda — e quando passa a atrapalhar.