Se necessário, chore!

Por: Laila Wahab
Advogada e psicóloga especialista em
Psicologias cognitivas

Nossa primeira reação ao entrar em contato com o mundo externo ao ventre materno, foi chorar, para expressar nossos sentimentos, emocionais e físicos, e alertar o mundo de que estamos vivos e reagindo. Quando palavras não forem suficientes, quando expressar emoções parecer doloroso e remeter a incompletude, chore. Então, uma questão é levantada, é saudável? Como distinguir entre o luto profilático e o adoecimento emocional? Expressar ou suprimir lágrimas, afinal vivemos em uma era onde só manifestações de coragem são aplaudidas, pessoas supostamente “ frágeis” são mal vistas, relegadas e até preteridas.

Inicialmente, “ sine qua non” distinguir crise de choro, depressão e outras doenças, em razão da associação, por exemplo: a crise de choro decorre de fatores emocionais, enquanto na depressão, os sintomas remetem a doença psicológica, há que se ter clareza através de um psicodiagnóstico bem elaborado com o acompanhamento médico especializado.

A ansiedade remete à afeto desagradável de inquietação, com queixas somáticas de taquicardia, vasoconstrição, sudorese, aumento do peristaltismo, taquipnéia, piloereção, midríase; dores, contraturas, tremores; parestesias, calafrios, adormecimentos; sensação de afogamento e sufocação.

Psíquicas – tensão, nervosismo, mal-estar indefinido, apreensão, insegurança, dificuldade de concentração, sensação de “estar no limite”, despersonalização e desrealização.(ANDRADE e cols.,1994).

A importância do diagnóstico é vital para excluir quadros somáticos orgânicos que podem causar sintomas semelhantes, tais como: doenças endócrinas, síndrome de tensão pré-menstrual, intoxicação por drogas (medicamentos, álcool, drogas ilícitas), transtornos gastrointestinais, infecções virais e bacterianas, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças imunológicas, disfunções metabólicas, doenças neurológicas, entre outras.

Vital que se diga também que a ansiedade pode se apresentar como epifenômeno apontando para outros transtornos psiquiátricos. Ter ciência destes fatores, fará toda diferença na vida do paciente.

Ao receber o paciente e suas queixas, é vital que o psicologista, compreenda o momento de vida de seu paciente, suas tristezas, inquietações, e em especial seus medos. Falar em medo, assusta, mas é uma consequência natural de quem é exposto aos eventos da vida e estas dificuldades podem inclusive, exercer um papel adaptativo, um estímulo para o desenvolvimento pessoal.

Em que pese todos estes critérios para o exercício responsável da profissão de psicologista. Todavia, viver é uma aventura cheia de altos e baixos, com superações e outras vezes, nem tanto. Em algum momento virá aquele sentimento de nó no peito ou na garganta ou mesmo de solidão. Estes argumentos me remetem a uma acusação pertinente feita pela psicanalista Elizabeth Roudinesco, em seu livro “Por que a Psicanálise?”:

“Essa psiquiatria anestesiante nega a subjetividade já a partir do diagnóstico, baseado numa falsa nosologia, que não vê diferenças relevantes entre o luto pela perda de um pai, o desânimo por uma reprovação acadêmica ou a tristeza pela perda do emprego, desde que os sintomas objetivos se encaixem nas mesmas categorias prefixadas, no mesmo quadro formal. São males equivalentes, já que o mesmo antidepressivo pode ser eficaz nos três casos”.

Parece contrassenso, não é? Será que precisamos de tantas medicações, para todos os males? Chorar é necessário? Quando nos faltar recursos à disposição, mar de emoções que arrancam lágrimas, tristezas, por decepções, fadiga, a pior delas é a dor física e a dor emocional, essas rendem muitas lágrimas.

Diferenciar e saber nortear o caminho é o mais seguro. Respeitar o momento é o mais acertado, nem todas as dores precisam necessariamente serem medicadas. Nem todas as lágrimas precisam ser enxugadas, há que saber do que se trata.

Michael Stone, em seu livro “A Cura da Mente”, disserta sobre a importância da formação dos profissionais de saúde mental em relação a suas funções integrativas, em especial no que se refere ao diagnóstico. Dada sua relevância durante todo o tratamento:

“O que quer que aconteça à nossa espécie nos séculos vindouros, nossos conflitos e nossa química ainda estarão inextricavelmente entrelaçados. Os educadores de profissionais da saúde mental precisarão assegurar que os terapeutas que eles treinam têm consciência e respeito pela individualidade e cultura singulares e seus pacientes, bem como de suas complexas bases constitucionais e biológicas. ”

A verdade é que temos dificuldades em compreender nossos sofrimentos e conviver de modo saudável com eles. Até porque o tempo de luto é muito pessoal, e não existe uma previsão que de conta de ser precisa. Fato é que quanto mais consciente a pessoa estiver de sua real condição, do que lhe está trazendo sofrimento, mais probabilidade de sair do quadro de forma produtiva e compensadora.

Quando o choro esvazia o peito, afrouxa a dor que comprime no amago do ser, para que a vida possa ser renovada, e vir a ser preenchida com fé e com esperança. Pode chorar.

As vezes não é fácil viver, aparecem umas tempestades derrubando tudo o que se encontra pela frente, inclusive nós. E a gente se quebra e as vezes nosso coração é quebrado, perdemos pessoas, oportunidades, nossos sonhos, amores, nosso precioso tempo, que sob nenhuma hipótese volta nem um segundo atrás. Nossos arrependimentos, pelas palavras não ditas, ou as que foram proferidas, que não se pode retirar jamais; por certezas incertas, chorar. Ou implodimos.

Decepção dilacera a alma, esvai por entre os dedos as confianças, em si e nos outros, depositários de nossos afetos. A traição é um punhal cego, não se importa onde fere e nem a profundidade da ferida, só leva em conta a indiferença e frieza de quem traiu. Quando você se sentir, traído, solitário. Pode chorar.

Quando seu amor não for levado em conta, quando mentiras forem a tônica da vez, suprimindo suas verdades e tirando suas forças. Se aliviar, chore. Mas, não se demore muito neste lugar, só quando entendemos o tamanho da nossa dor é que conseguimos nos mover, sublimar e prosseguir, avante.

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Imagem de sir5life0 por Pixabay