Sou tímida, o que eu faço com essa minha timidez?

A definição de timidez mais conhecida é a que se refere ao tímido como aquele que tem temor, receoso, acanhado, covarde. Pessoa que tem vergonha, sensitiva, pessoa que com tudo se melindra ou de grande suscetibilidade, aquele que facilmente se ofende. A definição de temor também é descrita em alguns dicionários como ato ou efeito de temer-susto sentimento de reverencia ou respeito.

Prefiro dizer simplesmente, tímido é aquele que tem medo. Na infância o comportamento em relação ao medo é explicado e entendido pela capacidade da criança em discriminar fantasia de realidade. Ao passo que esta capacidade vai sendo aprimorada em sua relação no mundo, o medo naturalmente vai se adaptando ao que é esperado, ou seja, passa a ser um parâmetro de auto proteção .

As pessoas mais tímidas, tendem a supervalorizar os possíveis riscos, assim o novo e o desconhecido torna-se assustador. O tímido está sempre muito preocupado em passar uma boa imagem para as pessoas, torna-se extremamente exigente consigo mesmo, apresentando por isso , mais dificuldade de se relacionar, paquerar, namorar, expressar o que sente e o que pensa sobre as coisas.

A inibição geralmente é resultado do medo de falhar e com isso se sentir ridículo e incapaz. A timidez está diretamente relacionada ao amplo sentimento de competência. A nossa auto imagem é a percepção daquilo que acreditamos ser, quando ela é negativa, encontramo-nos numa prisão interna que nos leva a distorcer a realidade e em conseqüência nos retraímos.

O ser humano tem uma demanda de amor, necessita ser amado para se desenvolver , precisa sentir-se visto, percebido e aceito. Existem muitos estudos que relatam, que a falta de amor ou o desamor , principalmente nos primeiros anos de vida, interferem no desenvolvimento e na maturidade emocional do ser humano. O nosso sentimento de segurança e de auto confiança se configura ainda nesta fase, através das vivências de afeto e de confirmação pelas quais passamos.

Costumo dizer que nós passamos por dois úteros, um físico e um psicológico. Ambos nos geram para o mundo. O psicológico é formado por nossa matriz social, ou seja por nossa família, pelas pessoas com quem nos relacionamos e com as quais aprendemos e entendemos como devemos nos comportar. A educação é a via desse processo. E através dela aprendemos quem somos, o que somos e como somos. Nossa individualidade vai sendo lapidada pela visão de mundo de nossos pais, suas crenças, seus mitos e suas verdades.

São desses entendimentos que se desenvolve nossa AUTO ESTIMA. A auto estima é o resultado do afeto que aprendemos a dar a nós mesmos através do respeito e da aceitação daquilo que pensamos, sentimos e somos. Através dela conquistamos nossos espaços e percebemo-nos merecedores de felicidade. É o resultado do amor que recebemos, não o amor gratuito mas aquele que ensina a retribuir, que ensina a noção de respeito ao outro e a si mesmo. Na primeira infância necessitamos da aprovação externa, a reação das pessoas aos nossos atos também constituem fonte formadora da nossa auto imagem e podem modificar ou influenciar nosso auto conceito que carregaremos durante a vida.

Este auto conceito, esta percepção de si, dos próprios potenciais, de limites, e principalmente de seus desejos, vão sendo estimulados durante toda a nossa vida, através das diversas relações que estabelecemos. Isto significa que a nossa família influencia nossa forma de nos percebermos mas não a determina. A maturidade psicológica pode ser medida também pela nossa capacidade de nos auto alimentarmos emocionalmente passando então da necessidade de confirmação para apenas o desejo de sermos aceitos.

Isto não significa que somos como argila, moldados apenas pelas experiências externas. Nascemos com características físicas e com algumas psicológicas, herdadas. Trazemos conosco em nosso nascimento um potencial de saúde mas que precisa dessas provisões externas para se desenvolver.

Resumindo a auto estima é a capacidade do ser humano de sentir-se bem em relação a si próprio, o bastante para aceitar a rejeição não como uma afronta pessoal, mas, como parte inevitável da vida. O indivíduo com auto estima tem a capacidade de deixar a rejeição para traz e prosseguir. Aqueles que se aceitam agem livremente, permitindo a si mesmos atuar próximo ou no máximo de seu potencial. Expressar-se é contar sobre si , relacionar-se, assumir que faz parte do mundo.

O TÍMIDO tem sua AUTOESTIMA baixa, frágil, sempre acha que todos estão olhando para ele, o mundo roda em torno de sua atuação. Está preocupado em como os outros vão avaliar suas atitudes e comportamentos e com isso não tem coragem de assumir seus próprios desejos.

A timidez torna as pessoas propensas a interpretarem os acontecimentos de uma maneira ameaçadora ,com isso sua autonomia torna-se prejudicada, precisando de algo ou alguém para sentir-se seguro e tranqüilo.

Em nossa atuação no mundo trabalhamos sempre em duas áreas a da ilusão (fantasia, crenças) e da realidade (mundo objetivo). Nossas escolhas e formas de entender e de sermos no mundo nascem destes focos de atenção. Se temos uma boa noção sobre quem somos e do que somos capazes, ou seja, de nossos potenciais e de nossas possibilidades, atuamos no mundo de forma mais autônoma e segura. O conhecimento de si mesmo, aliado a auto estima são os fatores determinantes para mudar sua forma de se relacionar com o mundo.

A timidez incomoda cada vez mais. Em nossa sociedade competitiva aquele que não ousa, aquele que teme ser visto, ser percebido ou questionado em suas opnioes, tem mais dificuldade em se relacionar, conquistar seu espaço profissional e com isso alcançar o sucesso esperado pela sociedade e muitas vezes por si próprio. Torna-se invariavelmente comum, receber em meu consultório pessoas que buscam se livrar desse sofrimento. Desde jovens que não conseguem se expor em sala de aula, apesar de saberem a matéria, ou mesmo não conseguem fazer amizade pertencer a um grupo sentindo-se excluídos e rejeitados ou arriscar uma paquera, a adultos, muitas vezes já profissionais ,que, sentem dificuldade de expressar seus conhecimentos liderar grupos, agir com autoridade, estabelecer limites. Os tímidos sofrem e perdem oportunidades profissionais, relacionamentos pessoais, vivências, experiências, porque não se lançam no mundo. A sociedade prefere aquele que saiba defender suas idéias e seus pontos de vista.

…Então O QUE EU FAÇO COM ESSA MINHA TIMIDEZ?

Certa vez recebi em meu consultório uma jovem de 20 anos na época, trazida pela mãe. A jovem que vou chamar aqui de Ana, era muito retraída, não tinha amigos, nunca havia namorado, e tinha pavor em falar em público. Vejam que, o que ela chamava de público, eram no máximo 2 ou 3 pessoas mediamente conhecidas. Se ela encontrava um vizinho na rua, por exemplo, rapidamente mudava de calcada, para não ter que cumprimentar. Ficava tão tensa que seu coração disparava e chegava a suar frio. Evitava cada vez mais o contato com outras pessoas.

Com o tempo eu e Ana , descobrimos que a dificuldade dela não nascia simplesmente no momento de se expressar, não era uma questão de escolher as palavras, mas, na maioria das vezes Ana não conseguia perceber o que realmente sentia ou pensava em diferentes situações. Ficava tão preocupada com a avaliação, que imaginava que fariam a seu respeito que esquecia de si mesma.

Com o desenvolvimento da psicoterapia Ana foi sendo estimulada a se reconhecer , descobrindo do que gostava, o que pensava sobre as coisas e aprendendo a se aceitar com todas as suas qualidades e com todas as suas dificuldades. Descobriu que é natural nos afeiçoarmos mais a algumas pessoas que a outras e que não há nenhum problema nisso. Da mesma forma teria pessoas que se afeiçoariam mais a ela e outras não, e que isso faz parte do nosso humano. Depois de alguns meses Ana contou-me que estava mais feliz, ainda não tinha coragem de paquerar até porque estava destreinada, como dizia, mas já arriscava algumas trocas de olhares e quando encontrava alguém conhecido arriscava um discreto OI!

O que podemos aprender com esse pequeno flash da vida da Ana é que o primeiro e mais importante passo é a busca de auto conhecimento, quanto mais descobrimos nossos potenciais e nossos limites, mais nos fortalecemos para aceitar críticas e aprender com elas.

A possibilidade de ousar é resultado desse conhecimento, podemos aprender a pular uma distancia maior quando sabemos de nosso potencial e agimos para utiliza-lo.

Aprender a tolerar as frustrações também fazem parte desse desenvolvimento emocional, quanto maior nosso limiar de tolerância, maior nossa maturidade. Nunca agradaremos a todos! Simplesmente porque somos maravilhosamente diferentes.

Psicóloga Sirley R. S. Bittú






Psicóloga Especialista Clínica, Psicodramatista Didata e Supervisora. Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA.