‘A dor de ninguém deve passar despercebida’: Lady Gaga escreve carta sobre estresse pós-traumático

Após falar pela primeira vez sobre o transtorno de estresse pós-traumático que enfrenta, Lady Gaga escreveu uma carta aberta sobre o assunto. A cantora afirmou, em entrevista ao Today, na última segunda-feira (5), que lida com o transtorno desde que foi estuprada, aos 19 anos. De lá para cá, a musa do pop procurou ajuda profissional e faz tratamento para controlar os sintomas. Publicada no site da fundação Born This Way , o texto chama atenção sobre a necessidade de falar sobre o assunto, muitas vezes considerado um tabu.

“Estou continuando a aprender como transcender isso porque sei que posso. Se você se identificar com o que eu estou compartilhando, por favor, saiba que você também pode. Eu me comprometo não só a ajudar os nossos jovens a não se sentirem envergonhados de suas próprias condições, mas também a prestar apoio aos militares e mulheres que sofrem de TEPT. A dor invisível de ninguém deve passar despercebida.”

“Eu tenho me questionado por algum tempo sobre quando, como e se eu deveria falar sobre o meu diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático. Depois de cinco anos procurando as respostas para minha dor crônica e a mudança que senti em meu cérebro, estou finalmente bem o suficiente para lhes dizer. Há muita vergonha ligada à doença mental, mas é importante que você saiba que há esperança e uma chance de recuperação.

É um esforço diário para mim, mesmo durante o período deste novo álbum, administrar meu sistema nervoso para que eu não entre em pânico em circunstâncias que, para muitos, pareceriam situações de vida normal. Por exemplo, sair de casa ou ser tocada por estranhos que simplesmente querem compartilhar seu entusiasmo com minha música.

Eu também luto com os gatilhos das memórias que eu carrego de meus sentimentos de turnês passadas, quando a minha necessidade e o meu pedido para ter equilíbrio eram ignorados. Eu estava sobrecarregada e não levei a sério quando compartilhei minha dor e a preocupação de que algo estava errado. Eu acabei ferida na festa do Born This Way. A lembrança desse momento mudou minha vida para sempre. A experiência de fazer shows, noite após noite, sentido uma dor mental e física, enraizou em mim um trauma que eu revivo sempre que vejo ou ouço coisas que me lembram desses dias.

Eu também vivo algo chamado dissociação, o que significa que minha mente não quer reviver a dor; então, “eu olho para frente e fico encarando”, como uma estátua. Como meus médicos me ensinaram, eu não consigo expressar meus sentimentos porque meu córtex pré-frontal (a parte do cérebro que controla o pensamento lógico e ordenado) é substituído pela amígdala (que armazena a memória emocional) e me leva para uma luta ou fuga como resposta. Meu corpo está em um lugar e minha mente em outro. É como se o acelerador de pânico em minha mente ficasse preso e eu ficasse paralisada de medo.

Quando isso acontece, eu não consigo falar. Quando isso acontece várias vezes, me faz ter uma reação comum da TEPT, que é quando eu me sinto deprimida e incapaz de funcionar como eu sempre fui. É mais difícil fazer o meu trabalho. É mais difícil fazer coisas simples, como tomar um banho. Tudo se tornou mais difícil. Além disso, quando sou incapaz de controlar minha ansiedade, pode resultar em outros sintomas, que é a dor no corpo causada por uma incapacidade de expressar minha dor emocional em palavras.

Mas eu sou uma mulher forte e poderosa, que está ciente do amor que tenho em torno de mim da minha equipe, minha família, meus amigos, meus médicos e de meus fãs incríveis, que sei que nunca vão desistir de mim. Eu nunca vou desistir de meus sonhos com a arte e música. Estou continuando a aprender como transcender isso porque eu sei que posso. Se você se identificar com o que eu estou compartilhando, por favor, saiba que você também pode.

Tradicionalmente, muitos associam o estresse pó- traumático como uma condição enfrentada por homens e mulheres corajosos e militares que servem a países em todo o mundo. Embora isso seja verdade, procuro aumentar a conscientização de que essa doença mental afeta todos os tipos de pessoas, inclusive os nossos jovens. Eu me comprometo não só a ajudar os nossos jovens a não se sentirem envergonhados de suas próprias condições, mas também a prestar apoio aos militares e mulheres que sofrem de TEPT. A dor invisível de ninguém deve passar despercebida.

Estou fazendo várias modalidades de psicoterapia e tomo a medicação prescrita pelo meu psiquiatra. No entanto, acredito que o mais barato e talvez o melhor remédio do mundo são as palavras. Palavras gentis, palavras positivas, palavras que ajudam as pessoas que sentem vergonha de uma doença invisível para superar sua vergonha e se sentir livre. É assim que eu e nós podemos começar a nos curar. Estou começando hoje, porque segredos nos mantém doente. E eu não quero mais manter esse segredo.

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Uma nota de meu psicólogo:

Se você acha que pode ter TEPT, por favor, procure ajuda profissional. Há tanta esperança de recuperação. Muitas pessoas pensam que o evento que estimulou TEPT precisa ser o foco. No entanto, muitas vezes, as pessoas vão experimentar o mesmo evento e ter reações completamente diferentes para ele. A minha opinião é que o trauma ocorre em um ambiente onde seus sentimentos e experiência emocional não são valorizados, ouvidos e entendidos. O evento específico não é a causa da experiência traumática. Esta falta de um “lar relacional” para os sentimentos é a verdadeira causa da experiência traumática. Encontrar apoio é fundamental.”

Em 2014, Lady Gaga falou sobre o estupro sofrido quando era mais jovem. Na época, ela argumentou que não gostaria de ser “definida” como “a cantora que sofreu um abuso” e caracterizou a violência como “terrível”.

Também disse que só era capaz de sorrir novamente porque havia procurado por ajuda e passado por processos de terapias mental e emocional ao longo dos anos.

TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST

 






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