Fibromialgia: a dor que grita em silêncio

A Fibromialgia (FM), é uma síndrome caracterizada por dores crônicas, generalizadas e agudas delimitadas por pontos de dor, os chamados “tender points”. Não agride somente a musculatura estriada, mas também tendões e ligamentos. Todas estas condições clínicas associadas resultam em uma péssima qualidade de vida, onde mesmo atividades rotineiras do indivíduo são realizadas com grande custo físico e cognitivo. Quanto à incidência, acomete de 2 a 5% da população mundial, predominantemente mulheres na faixa etária entre 30 e 50 anos, embora atinja outros grupos etários e independente do sexo.

Embora na Fibromialgia a dor não seja visível, esta é real e causa muito sofrimento e desconforto. Contudo, geralmente é incompreendida pelas pessoas por falta de informação. Talvez porque somente o que é visível é levado em conta com seriedade. Ou seja, o que é relatado pela pessoa como dor e sua intensidade é uma questão muito subjetiva, podendo ser considerada preguiça ou desculpa para fugir de responsabilidades. Ainda que na Fibromialgia a dor não seja visível e “grite em silêncio”, isto não significa que seja menos pungente que qualquer outra dor.

Para facilitar este raciocínio, gostaria de fazer uma comparação: Quando uma pessoa sofre um acidente e quebra um braço ou perna, por exemplo, a dor provocada pelo trauma mecânico é observada por exames clínicos, quando um corte é profundo, causando hemorragia, a dor é compreendida e socorrida pelo quadro dramático que ali se apresenta. Nos hematomas, luxações e inchaços provocados por pancadas ou qualquer trauma mecânico, existe uma constatação dolorosa visível; nas queimaduras, idem. Em doenças cujos sintomas são observáveis, a dor é aceita e compreendida. Nas síndromes e nos transtornos dolorosos, a dor física e/ou emocional é de quem sente, de quem sofre, não sendo facilmente socializada por não apresentar visibilidade e por conta disto, muitas vezes até descredibilidade.

Profissionais que trabalham no tratamento da Fibromialgia:

Reumatologista, Osteopata, Psicólogo, Fisioterapeuta, Psiquiatra, Educador Físico, Retoproctologista, dentre outros.

Diagnóstico:

Por apresentar sintomas em comum com outras doenças reumáticas, a Fibromialgia é de difícil diagnóstico, sendo este eminentemente clínico e realizado por exclusão de outras condições médicas. Para fechar o diagnóstico, a dor musculoesquelética precisa ser aguda, difusa, persistente, nos dois lados do corpo e por no mínimo 3 meses.

A Fibromialgia apresenta uma constelação de sintomas que serão apresentados a seguir, sendo um verdadeiro ímã para o desenvolvimento de doenças e distúrbios secundários, as chamadas comorbidades. Por este motivo, caso se identifique com os sintomas, busque um Reumatologista. Quanto mais cedo for o tratamento, melhor o prognóstico.

A importância da Psicoterapia no tratamento da Fibromialgia:

Na vida prática, não existe separação entre saúde emocional e física, visto que ambas são integradas, interferindo diretamente uma na outra. Principalmente nas síndromes, como é o caso da Fibromialgia em que esta não é observada e nem diagnosticada através de exames clínicos, sendo necessário compreender como cada indivíduo percebe e vivencia sua dor, bem como lida com o estresse do dia-a-dia. A compreensão da dor é um processo complexo e neste contexto é crucial trabalhar os pensamentos, sentimentos, emoções, comportamentos e crenças distorcidos associados à percepção da dor e o que esta representa para cada pessoa em particular.

Como a dor tem uma relação direta com o estresse, aumentando a intensidade da mesma, quando a pessoa se encontra sobrecarregada e sufocada, o trabalho psicoterapêutico é importante não somente para a avaliação da administração do estresse em si, mas para a análise dos próprios sintomas da Fibromialgia, que geralmente incluem sintomas ansiosos e depressivos. Trabalhar os conteúdos subjacentes dos sintomas apresentados para uma melhor compreensão de quais foram os gatilhos externos e principalmente os fatores ambientais internos que ajudaram a manifestar e/ou manter percepções distorcidas e disfuncionais relacionadas com a cronificaçao da dor, é parte importante no processo do tratamento da Fibromialgia. Não menos importante é trabalhar através de técnicas psicoterapêuticas os problemas cognitivos, tais como concentração e memória.

Sintomas da Fibromialgia:

Nevralgia: dor que ocorre em um nervo ou grupo de nervos provocando desconforto doloroso;

Problemas digestivos: constipação ou diarréia;

Tensão muscular: dor provocada por contratura, apresentando rigidez muscular principalmente na área do pescoço, ombros e costas;

Sintomas ansiosos: sensação de apreensão constante, preocupação excessiva e tendência à catastrofizaçao de pequenos eventos;

Inchaços: Provocado por retenção de líquido intercelular;

Dor musculoesquelético crônica, difusa, aguda, em abas partes do corpo e com sensação de “queimação”;

Fadiga Crônica: O cansaço está diretamente relacionado a problemas do sono, abrangendo a própria insonia em si, bem como dificuldade para manter um sono reparador, além de déficit de vitaminas e minerais específicos que provavelmente precisam ser repostos somente a partir da avaliação de um médico ou nutricionista;

Parestesia: formigamentos e dormências principalmente nas extremidades (mãos e pés);

Dismenorréia: cólicas menstruais intensas;

Sintomas depressivos: mau humor, anedonia, sentimento de vazio, de que nada faz sentido, desânimo, pensamentos negativos, desesperança, dentre outros;

Problemas cognitivos: dificuldade de concentração e memória;
Taquicardia: “batedeira” no peito, palpitações;

Dores de cabeça: este sintoma é muito recorrente em pacientes com Fibromialgia, principalmente as cefaléias do tipo tensional;

Cãibras: uma das principais causas das cãibras é a falta de minerais essenciais que participam no processo de contração muscular;

Síndrome do intestino irritável: disfunção multifatorial que se caracteriza por contratura dos intestinos delgado e grosso, causando dores durante o processo final da digestão. Está relacionado à ansiedade e má administração do estresse diário, dentre outros fatores clínicos;

Dores pélvicas: dores no baixo-ventre (“pé da barriga”). No caso específico da Fibromialgia, está relacionado a problemas intestinais;

“Tender Points” ou pontos de dor: dor ao toque em pelo menos 11 pontos em um total de 18 pontos;

Dor temporomandibular: A área temporomandibular é a articulação entre o osso temporal e a mandíbula (ATM). Procure um Osteopata caso sinta pontos de dor na musculatura que envolve estas estruturas ósseas e articulação.

Problemas do sono: Seja para iniciar ou manter um sono de qualidade. Por não ter um sono reparador, a pessoa acorda com sensação de cansaço, como se não tivesse dormido;

Considerações finais:

Alguns pacientes fibromialgicos relatam que suas dores musculares, dos tendões, dos ligamentos e ossos “vieram do nada”, mas não é bem assim que acontece. Tudo na vida, bem como dores no corpo tem um porque de existir. A dor é um importante mecanismo de defesa que protege o nosso organismo contra lesões externas, nos preservando inclusive da morte. A dor é o alerta de que o organismo está correndo perigo de vida. Já imaginou uma pessoa que cai e fratura algum osso ou tenha sangramento, caso não sinta dor, não poderá tomar as devidas providências. E de acordo com a intensidade da dor, estas providências precisarão de urgência para a reestruturação do que foi lesionado. Contudo, estudos indicam que no caso da Fibromialgia, as pessoas portadoras apresentam uma hipersensibilidade à sensação de dor.

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Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Escritora e palestrante.Autora dos livros Fechamento de Ciclo e Renascimento, Supere desilusões amorosas e pertença a si mesmo, Liberte-se do Pânico e viva sem medo e Talita e o portal. Site: www.sorayapsicologa.com Email: [email protected]