TDAH: Será um sintoma social?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH caracteriza-se por três características básicas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. É um tema comum atualmente nas rodas de conversas de pais e professores e vem se tornando uma queixa frequente nos consultórios de médicos e psicólogos. O TDAH muitas vezes, acaba sendo um rótulo encontrado para denominar crianças com dificuldades escolares…

Como todo transtorno, o TDAH não possui uma única causa, ou seja, tem influências de fatores genéticos, psicológicos, sociais e culturais.
Gostaria de chamar a atenção para os contextos das crianças que são medicadas por terem TDAH:
Observamos, na maioria dos casos, alguns aspectos da dinâmica familiar, tais como a falta de rotina no cotidiano da criança, que envolve horários de refeições, sono, brincadeiras e tarefas diárias; também há a falta do diálogo e do olhar do outro, pois muitas crianças vivem em lares tomados pela correria dos pais, que acabam “não tendo tempo” para dar atenção aos filhos, muito menos para educá-los, enxergando isso como papel da escola…

Por sua vez, a escola (principalmente o ensino público do país) sofre de algumas precariedades como falhas no sistema de ensino, frequentes trocas de professores, salas de aulas com grande quantidade de alunos, etc. Com isso, exclui-se o desejo de saber e, entendemos que o conhecimento só se constrói a partir do desejo, ou seja, quando a criança experimenta o prazer de aprender e saber…

Sendo assim, quando a relação entre pais e filhos funciona bem, a criança tem mais chances de se estruturar emocionalmente, fortalecer seu ego e ser capaz de organizar defesas e desenvolver atitudes saudáveis em outros ambientes além de sua casa.

A rotina ajuda a criança a se equilibrar, a sentir-se segura e confiante, e o afeto dado a ela faz com que perceba a sensação de pertencimento e proteção…Lembrando que segurança e afeto não requerem brinquedos de luxo, tablet e celulares modernos, mas tem a ver com aceitar a criança como ela é, com suas potencialidades e dificuldades, estabelecer limites e favorecer a construção de autonomia,incentivando-a tornar-se responsável por sua vida, uma vez que o desejo dos pais nem sempre é o desejo dos filhos…

Já a escola precisa cumprir seu papel de socialização, estimulando na criança o desejo de aprender e também a convivência grupal, de forma a ensiná-la a esperar a sua vez, a respeitar as diferenças e a participar das atividades que lhe são propostas…
Todas estes fatores requerem trabalho e dedicação, sendo essenciais para o crescimento e amadurecimento da criança, de forma a evitar marca-la como simplesmente portadora de um sintoma e ajudando-a a sobreviver àquilo que querem fazer dela sem considerar o seu desejo…






Psicóloga clínica de abordagem psicanalítica na cidade de Limeira-SP; possui Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela FCA- UNICAMP; ministra palestras com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano. Também possui formação em Administração de Empresas e experiência na área de RH (Recrutamento & Seleção e Treinamento e Desenvolvimento).