A resiliência humana em tempos de pandemia do coronavírus

A pandemia já ceifou mais de 266 mil vidas no Brasil, atingindo todas as cidades do país, que conta a história de filhos que ficaram sem pais, de pais que ficaram sem filhos, de cônjuges que ficaram viúvos, de netos que ficam sem avós, onde muita gente se tornou responsável pela família da noite para o dia.

Assim, milhares de brasileiros têm um grande desafio de serem resilientes. A palavra resiliência vem do latim, “resilire”, que significa recusar, voltar atrás. É também a capacidade de sermos flexíveis diante das adversidades, ou seja, é a flexibilidade erguida por meio de um conjunto de crenças ou valores, que permitem superar os obstáculos e construir um futuro melhor.

A resiliência humana surge nesse contexto de sofrimento, em que uma pessoa assume a inesperada tarefa de cuidar de sua família, que perdeu entes queridos na pandemia do coronavírus. Além de outros exemplos do cotidiano, quando uma pessoa perde o perde o emprego, bate o carro, é lograda pelos sócios, repete o erro de confiar em que não deveria, falece sua mãe, é traída pelo cônjuge, sofre uma decepção com um filho, passa por uma grave doença ou terá que fazer uma cirurgia de risco.

Porém, ela continua firme e forte, não se deixando abater. E a gente se questiona: Como essa pessoa consegue?

Mas existem explicações para tal pergunta, não se é resiliente sozinho, apesar da resiliência ser subjetiva. A psicologia destaca que o valor do relacionamento com a família, sobretudo, na infância auxiliou na constituição da inteligência emocional de uma pessoa para suportar as crises, bem como a sociologia diz que o capital cultural que ela adquiriu de herança, transformou-lhe em resiliente.

Aliás, a mente humana possui a aptidão de estabelecer o contato com o mundo espiritual, onde a pessoa resiliente aprendeu a ter uma postura ética, que pode estar ligada a uma religião ou não, com a percepção cosmológica de que somos parte inseparável do planeta terra e do universo.

Essa força de vontade dá sentido à vida ou de buscar a razão de viver, de posicionar-se com fé e segurança nas possibilidades que a existência oferece para enfrentar as dificuldades. Por conseguinte, o sujeito resiliente tem empatia pelos outros e competência de compreender suas emoções e de saber lidar com as situações complicadas, que a sociedade impõe, principalmente, em tempos de coronavírus.

Desse modo, o indivíduo resiliente adquiriu maturidade e sabedoria ao encarar as turbulências da vida, que são áreas que estão ligadas à resiliência humana e cooperam para a superação dos problemas, que é a habilidade de confiar no desempenho, de contornar os contratempos, de ter um olhar positivo e de cultivar a esperança.

Portanto, os estudos neurocientíficos comprovam que nosso cérebro apresenta a plasticidade de se modificar continuamente e de se recuperar, mostrando que podemos nos tornar mais resilientes. Isso está aliado à nossa habilidade psíquica e social de adaptar-se às mudanças ambientais externas e internas, graças à ação sinérgica de diferentes órgãos, coordenados pelo sistema nervoso central.

Em outras palavras, somos naturalmente um povo resiliente, pois é como diz o refrão da música “Volta por Cima”, de Paulo Vanzolini: “Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Afinal, só com muita luta e resistência sobreviveremos à Covid-19 e ao negacionismo científico e político.

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Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista

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Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista