Considerações psicossociais sobre a traição conjugal

Embora se constitua um fenômeno, relativamente, comum na história da humanidade, não se tem notícias de uma civilização que o considerasse normal, a traição ou o adultério, que na maioria das vezes, é um elemento de intensa desaprovação moral e religiosa, que ao longo da história foi continuamente punido pela sociedade.

Não é o objetivo deste artigo entrar na discussão se são os homens ou as mulheres que mais traem ou adulteram, muito menos apontar um olhar moralista e devoto sobre o assunto. Mas de indicar que a infidelidade tem graves consequências psicossociais, que podem causar depressão, ansiedade, infelicidade, baixa autoestima, bulimia, insônia e doenças sexualmente transmissíveis e também elencar as características comuns dos infiéis.

A gênese da palavra adultério vem do latim ad alterum torum, quer dizer na cama de outro. O termo adultério pode ser usado tanto para definir a infidelidade em um relacionamento entre dois indivíduos, quanto na sua forma falada ou alegórica, referindo-se a algo que foi fraudado. A diferença entre traição e adultério é imperceptível, porém, para fins legais, considera-se adultério o relacionamento extraconjugal, desde que haja o contato íntimo entre as partes.

Existe uma extensa literatura sobre o tema traição conjugal, envolvendo o namoro ou o casamento, que ganhou censura na Bíblia, status laico na antiga Roma e intrigas nos palácios imperiais. Na sociedade contemporânea massificou-se nas narrativas do cinema, da novela, da arte, da política, da música e das redes sociais, seduzindo gente de todas as classes sociais.

As pesquisas atuais apontam que homens e mulheres traem na mesma medida. Geralmente esses indivíduos apresentam as seguintes características: infiéis incuráveis, infiéis eventuais, infiéis nervosos, infiéis dissimulados, etc. Eles têm em comum: a traição que realizam não é contra uma pessoa, mas é contra um relacionamento afetivo de duas pessoas.

Já não funciona a desculpa de que a infidelidade apimenta a relação e menos ainda o seu viés secreto. A revelação, cedo ou tarde, da traição implicará numa quebra do pacto de confiança, que em muitas vezes, será irrecuperável. E quem quebra o vínculo terá que enfrentar os efeitos das perdas emocionais, familiares e econômicas. Nos períodos históricos a traição foi cantada, lamuriada e odiada, por menor que seja, e nos dias atuais continua deixando traumas no coração e na mente das pessoas enganadas. Os infiéis demostram sinais que têm enormes dificuldades de amar e que aceitaram destruir o sentimento do outro, desconsiderando os riscos da traição.

Finalmente, se alguém conclui que não está feliz com o seu namora ou casamento tem todo o direito legal, moral e emocional de terminar com o relacionamento, mesmo que outra pessoa sofra e insista em continuar a relação. Mas fingir que gosta e seguir persistindo na traição, isto é falta de caráter e sensibilidade.

Imagem de capa: Shutterstock/Antonio Guillem






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista