Escutar é um processo que requer sensibilidade

É necessário destacar que vivemos numa era que o primado da fala e da escuta está sendo substituída pelo campo da imagem, que têm uma velocidade alucinante e uma linguagem rasa, com um discurso em que a fala é desprovida de sentido e uma escuta evasiva.

Somos uma sociedade competitiva, que está inclinada para individualismo, onde a vida está tomada de excesso de atividades e dependência tecnológica. Além disso, algumas pessoas são premidas por uma grande necessidade de falar, como se o mundo fosse acabar amanhã.
É difícil parar de falar, basta observar: vivemos num mundo de faladores compulsivos, onde estamos sobre uma pressão neurótica para nos transformar em tagarelas, pois para nossa sociedade líquida escutar é mostrar fragilidade.

Isso acontece com o chefe que evita escutar o funcionário, ocorre com o marido que não escuta a esposa, com o pai que não quer escutar o filho, o professor que se nega escutar o aluno, o médico que atende o paciente sem escutá-lo, o psicoterapeuta que se mostra enfadonho na escuta com o paciente e assim por diante.

Saber escutar não é uma tarefa fácil, que exige o domínio de si mesmo e implica disposição para captar a mensagem do outro, ou seja, de fazer um esforço para escutar sem interferências internas ou externas. A arte de escutar é uma habilidade que requer abertura, paciência e transparência.

A capacidade de comunicação: falar, ler e escrever é inerente a convivência humana, mas aprender escutar é um processo que requer sensibilidade. Como definiu o filósofo alemão Johann Wolfgang Von Goethe: “Falar é uma necessidade, escutar é uma arte”. Na qual se apresenta as seguintes qualidades:

1. Escutar é uma das aptidões mais extraordinárias do ser humano, porque não se adquiri sabedoria sem a escuta verdadeira.
2. Escutar é desnudar-se de preconceitos, para se colocar no lugar no outro. Ser capaz de escutar o que outro está querendo realmente quer dizer.
3. Escutar é deixar de ser o centro de si e preencher-se pelo mundo do outro. Nesta troca, aprendemos a ser pessoas melhores.

4. Escutar é ser generoso com o mundo do outro, criando um clima de respeito e confiança.
5. Escutar é um exercício solidário e saudável, justamente, em uma sociedade em que ninguém se preocupa com o problema do outro.

É da natureza humana querer falar das nossas dores e conquistas sem ser julgado. Buda, Sócrates e Jesus nos ensinaram que somos capazes de fazer a escuta correta, sem expor a fragilidade do outro. Evidente, que não se pode sair por aí falando dos problemas para qualquer um, que se diz bom ouvinte. Por isso, que temos psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, padres, pastores e outros profissionais especializados para fazer escuta das dificuldades e dos segredos dos outros.

Contudo, existem amigos, colegas e familiares que têm esse toque sublime da escuta, como um anjo que Deus enviou para nos dar atenção naquele momento que mais carecemos de escuta.

Imagem de capa: Shutterstock/Zolotarevs






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista