Fazer o outro feliz não garante relacionamento

Fazer o outro feliz não garante relacionamento. Relacionar-se com alguém vai muito além de satisfazer uma mera alegria alheia. O vínculo envolve saber conversar, saber pedir desculpa, saber perdoar, envolve ser maduro, envolve saber lidar com o outro. Não é fazer tudo que o parceiro quer, pois, assim como a tristeza, a felicidade também passa.

Tudo passa, nada se mantem. Se isso não é compreendido, passaremos a vida toda tentando fazer o outro feliz ou, melhor dizendo, evitando a tristeza do outro. Ou seja, uma vida baseada em tentar manter fixo algo que naturalmente é efêmero: felicidade e frustração.

Relacionamento se mantém numa mútua troca e compreensão. Se apenas uma das partes dá, reconhece falhas, pede desculpas, busca trazer felicidade ao outro, o fracasso é certo. Afinal, o intuito é um acompanhar o outro e dizer “Eu estou aqui com você, a gente vai junto”, e não dizer “Eu estou aqui por você, pode deixar que eu faço em seu lugar”.

Essa segunda postura é claramente infantil, fazemos isso quando somos crianças, mas não mais o somos.

Somos dois inteiros compartilhando nossas vidas, nossos medos, nossos sonhos, nossas alegrias, mas também nossas tristezas. A atitude de tentar manter o outro sempre feliz, sempre “entretido”, não deixando que ele experimente algum tipo de insatisfação, é demonstrativa de uma falta de autoestima, autoconfiança, pois busca a aprovação do parceiro o tempo inteiro. Por se achar inferior, tenta manter o parceiro sempre mergulhado em total alegria a fim de que ele permaneça. Infelizmente, não conseguimos fazer ninguém feliz o tempo inteiro. De fato não conseguimos manter a nós mesmos felizes o tempo inteiro.

Relacionamento é dar ao outro a possibilidade de tentar consertar, tentar ajustar, de tentar crescer, e igualmente receber tais oportunidades. Nenhuma relação unilateral se sustenta, mas a bilateralidade renova tudo, visto que demonstra valorização do outro. É como estar num bote onde os dois estão remando e procurando dar apoio um ao outro. Se apenas um rema e o outro desfruta, uma hora o remador cansa, inevitavelmente. Entretanto, se houver o revezamento, é possível chegar onde se deseja.

O que vale é fazer o seu melhor, é procurar construir e manter o bem estar da relação sem deixar se perder nesse relacionamento. É preciso ser como o óleo na água: embora o óleo esteja imerso na água, seus contornos se mantém bem definidos, de modo que é possível ver onde ele está. O óleo não se perde dentro da água. O amor respira a troca e não a subserviência.






Estudante de Psicologia; cronologicamente, 23 anos. Acredita piamente que o amor é a resposta, não importando a pergunta. Eterno peregrino do Caminho do Meio. Vive entre a poesia e a filosofia, onde encontra a psicologia nesse eixo e transborda tudo na escrita