Às vezes, ser bloqueado por alguém é a melhor coisa que poderia ter acontecido

Algumas pessoas saem de nossas vidas sem a gente querer, mas depois de um tempo a gente percebe que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.

Às vezes nos falta coragem para romper com uma situação ruim. Projetamos o futuro com pessimismo e não imaginamos que de um limão podem surgir diversas limonadas geladinhas e muito doces. Então de repente vem a vida solucionando tudo pra gente, nos livrando dos enganos com bênçãos disfarçadas, nos permitindo dar um basta àquilo que não nos cabe, mesmo que não consigamos enxergar isso no momento.

Qualquer um há de concordar que ser rejeitado por alguém machuca, fere muito. Porém, é preciso conseguir ver além das primeiras impressões. É preciso aprender a enxergar além daquele momento em que a raiva nos cega e só pensamos no próprio ego, no orgulho ferido, na humilhação e no fracasso. É preciso deixar o tempo apaziguar a decepção e só então ter a noção exata do que foi perdido. Porque às vezes a gente se confunde. Imagina que perdeu alguma coisa quando na realidade ganhou. Embaralha os sentimentos e acredita que a dor do abandono é o mesmo que a tristeza pelo fim do relacionamento.

Às vezes a gente insiste. Insiste muito. Aposta alto num barco furado porque em algum lugar dentro da gente algo ainda nos diz que é pra continuar remando, que vai valer a pena, que há algo a se esperar. Porém, mesmo insistindo, mesmo desejando, podemos ser bloqueados em nossa tentativa de remar. Nós ainda não temos consciência disso, mas uma hora iremos perceber que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.

Ser abandonado ou bloqueado por alguém não precisa ser sinônimo de derrota ou tribulação se encararmos que foi melhor sermos excluídos de uma vez da vida dessa pessoa do que se tivéssemos permanecido como última opção em seu rol de prioridades.

O lado bom de ser bloqueado por alguém é que isso nos situa, dá um chacoalhão na nossa mania de olhar para trás pelas lentes da nostalgia, nos ajuda a valorizar o presente e dar uma chance ao futuro. E quem nos bloqueou nem sempre é imaturo ou não nos quer por perto. Muitas vezes essa pessoa também está lutando para deixar o passado para trás, e num “acordo” silencioso e subentendido entre as partes, nos faz um grande favor ao nos bloquear e finalmente romper os laços.

Às vezes a gente precisa que alguém nos empurre porta afora e nos ponha por diante, para que a gente perceba o quanto a vida é incrível do lado de fora. Nem sempre temos força para sair do sofá, tirar o pijama e fazer acontecer. Então somos bloqueados e tudo muda. Se antes não questionávamos a relação, agora passamos a questionar. E podemos chegar à conclusão de que nosso medo de romper com a realidade do sofá empoeirado, bolorento e escuro nada mais era do que nossa dificuldade em aceitar mudanças e em sermos amorosos com nós mesmos.

Ser bloqueado por alguém pode ser libertador. Porque isso nos dá limites. Isso nos dá clareza. Isso nos coloca em nosso devido lugar e nos autoriza a seguir em frente, a não ter esperanças, a desistir. Além disso, passado o susto inicial, começamos a perceber melhor as coisas. Começamos a questionar o valor que dávamos àquela pessoa e descobrimos, com admiração e alívio, que reciprocidade não se cobra, e que o maior responsável por ofertar carinho pra gente é a gente mesmo.

Foto de Daria Nepriakhina no Unsplash

Para comprar meu novo livro “Felicidade Distraída”, clique aqui.






Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.